História de Sobral: O avião do Padre Palhano e seus carrões exóticos

As crianças de Sobral de 1958 não conseguem tirar na mente
as imagens do Padre Palhano. Era um tipo atlético e polivalente, que gostava de
ser moderno, mesmo tendo que encarar olhares críticos de conservadores da
sociedade. Se para alguns o padre era metido a bacana, mais playboy do que
padre
, para as crianças, ele era uma espécie de super-herói, que andava em
carrões exóticos, pilotava motos de grande porte e fazia piruetas no ar com seu
admirável teco-teco, conhecido comumente como avião do Padre Palhano.
Em suas investidas políticas a grande arma era o discurso
contundente, fosse enaltecendo amigos ou desmoronando a moral dos “adversários”.
O povo ficava ao pé do rádio ouvindo, na Tupinambá, as crônicas que o padre
fazia ou mandava fazer. Era desaconselhado que alguém se voltasse contra ele e
o tivesse como opositor.
Certa feita, por volta de 1965, espalhava-se na cidade –
certamente só para meter medo em meninos – o boato de que aqui existia
comunista, conhecido como “come-miolo de criança”. O fato aterrorizava a
meninada, que ficava escondida em suas casas, temendo qualquer tipo de aparição
estranha. Para alegria dessas crianças, correu a notícia de que o Padre Palhano
havia resgatado, com seu avião, um menino que estava em poder do monstro. Se o
Padre já era heroico, a partir daí elevou sua fama e credibilidade junto aos
inocentes admiradores.
A ditadura militar, a partir de 1964, não poupou o padre, à
época deputado federal. Assim como os demais congressistas, ele teve seu
mandato cassado. Passou então a ser perseguido, tendo que ficar a maior parte
do tempo distante dos espaços públicos. Depois de certo tempo voltou às
atividades políticas, participando com apoio decisivo em campanhas locais e em
nível estadual.
Discussão com o bispo
Sua posição dentro da Igreja foi marcada por altos e baixos.
Tendo entrado em desacordo com o bispo Walfrido Teixeira Vieira, o padre teve
seus direitos sacerdotais suspensos, passando a partir daí a realizar
procissões e missas, mesmo sem o consentimento da Diocese. As procissões
partiam do centro da cidade para a gruta de Nossa Senhora de Lourdes,
construída pelo padre, no bairro do Junco, aonde aconteciam concorridas missas
e novenas, com total participação dos fiéis.
A briga do padre com o bispo configurou-se numa sistemática
troca de acusações públicas, a partir das rádios Educadora (em favor do bispo)
e a Tupinambá (de propriedade do padre). Felizmente o desfecho foi a paz entre
ambos, frutificada pela conscientização de que quando um não quer dois não
brigam. Sabe-se que o padre Palhano foi perdoado pela Igreja e também pelo
bispo, quando estava próximo de sua partida à eternidade.

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