Sítio Histórico de Sobral é um dos maiores do País

Segunda cidade do Estado do Ceará que teve seu Sítio Histórico tombado, em agosto de 1999, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), ficando atrás apenas de Icó, Sobral, na região Norte do Estado, passou a ter todos os bens imóveis inseridos na área tombada, sujeitos à vigilância e a outros meios de preservação promovidos pelo Instituto.
Em 2006, com apoio técnico do Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da Universidade Estadual do Ceará (Iepro / Uece), o Iphan organizou uma série de inventários para uma melhor compreensão da configuração espacial do sítio histórico. Um dos objetivos foi o de tornar mais eficazes os possíveis projetos e intervenções propostos na área tombada.
A cidade de Sobral possui um espaço tombado de 47 hectares, além de uma área de entorno de 84 hectares, considerada de transição, sob regulamentação do Iphan. O estudo de tombamento, com cerca de três volumes, contém mapas, diagnósticos, fotografias, o inventário de fachadas, além do levantamento dos bens de relevância de toda a área protegida, como a Câmara Municipal, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, e o Palácio de Línguas Estrangeiras, inserido no Centro Comercial da Cidade.
Apesar de alguns imóveis que pertencem a esse complexo terem perdido suas características arquitetônicas, antes do processo de tombamento, o Iphan os trata com a mesma importância para a ambiência histórica.
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O projeto Sobral Novo Centro trocou a pavimentação das ruas, requalificou calçadas, mudou a iluminação e iniciou a internalização da fiação elétrica do local para gerar uma sensação de ambientação histórica (Fotos: Marcelino Júnior)

Requalificação

A proibição, por parte do Instituto, da colocação de cerâmica e pedras nas fachadas, vai ao encontro da proposta de revitalização do ambiente, com a execução do projeto Sobral Novo Centro, que trocou toda a pavimentação das ruas por piso intertravado, que garante maior infiltração da água da chuva, refrescando o ambiente; requalificou calçadas, garantindo maior acessibilidade; mudou a iluminação pública, com a troca de lâmpadas e postes; e iniciou a base para a internalização de toda a fiação elétrica do local, com o objetivo de gerar uma sensação de ambientação histórica, compatível com o casario.
O projeto está em sua fase final, aguardando contato da empresa de energia elétrica para o início da retirada da fiação aérea, das caixas de energia e dos postes, que comprometem a visualização do patrimônio protegido.
Perímetro
Um característica que difere a cidade de Sobral de outras cidades brasileiras, ao se observar sua área tombada, é quanto ao seu perímetro, um dos maiores do País.
“Sobral tem uma característica bem peculiar, pois a área de tombamento tem recortes que vão de um extremo a outro, pois não poderíamos deixar de fora certos patrimônios de inegável valor histórico, como a Praça do Patrocínio, a Igreja do Rosário e outros prédios, por exemplo. Daí o formato do Centro Histórico ser um pouco recortado, incluindo áreas de transição, que se localizam em todo o entorno do complexo”, explica Alana Figueiredo Pontes, gerente do Patrimônio Histórico da Coordenadoria de Planejamento Urbano da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente.
Preservação
Ainda, segundo a coordenadora, a arquitetura do casario de Sobral remete muito às características das antigas construções do Maranhão e de Pernambuco, em seus áureos períodos como capitanias importantes. Pela proximidade geográfica e cultural, se percebe o processo de assentamento do Ceará, seguindo o que era determinado por esses grandes centros.
“Na época, Sobral absorvia muito do que vinha deles. Um outro diferencial é que a cidade mantém seu Centro preservado e muito utilizado como local de moradias; diferentemente do que ocorre em outras cidades, como Fortaleza, por exemplo. E apesar do avanço do comércio, dentro dessa área, ainda existem moradias inseridas no nosso Sítio Histórico; o que chama muito atenção de estudiosos”, reforça Alana Pontes.
Mudança
A comerciante Maria de Lourdes Pontes de Vasconcelos, proprietária do tradicional Café Jaibaras, instalado no coração do Becco do Cotovelo, point cult da cidade, não é nenhuma estudiosa de Arquitetura, mas se diz apreciadora da beleza do casario protegido, principalmente das residências que ainda abrigam famílias herdeiras desse passado de inquestionável riqueza.
Maria de Lourdes só lamenta as muitas alterações observadas em prédios comerciais. “Eu nasci aqui e lembro das casas que existiam no passado. Vejo algumas delas, que foram tombadas, porém perderam suas características. Muitos portais foram mudados e fachadas transformadas para dar um ar de tempo passado, mas não correspondem ao estilo original”, lamenta a comerciante.

Pelo seu recorte, a área do Centro Comercial, tombada pelo Iphan, difere de outros sítios protegidos nacionalmente

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“Eu acho muito importante para a história da cidade, porque mantém viva a tradição dessas grandes famílias que fizeram Sobral. A gente sente que esses prédios foram construídos para atravessar os séculos, e é isso que tem ocorrido. As novas gerações têm tido acesso ao passado, por meio dessas fundações, de suas fachadas e do estilo tão bem preservado de sua arquitetura”
Kelly Brasil
Funcionária pública
“Sobral passou a ser olhada com mais carinho no que diz respeito aos seus prédios antigos. A exemplo do que ocorre em outras cidades, o Poder Público Municipal passou a buscar a preservação de seu patrimônio arquitetônico como forma de manter em evidência a opulência de um tempo de prosperidade. Isso vemos nas fachadas de muitas residências. Andar pelo Centro Histórico ainda pode ser uma viagem ao passado”
Francisco Expedito Vasconcelos
Historiador

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