Santa Quitéria: presidente do TRE denuncia homem armado em julgamento; advogado contesta versão
Advogado do município de Santa Quitéria pede imagens das câmeras de segurança para que "equívoco seja claramente e publicamente esclarecido"
O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), desembargador Raimundo Nonato, denunciou, nesta terça-feira, 22, que um guarda municipal a serviço do irmão do prefeito interino de Santa Quitéria, Joel Barroso (PSB), entrou armado no plenário durante o julgamento do caso de José Braga Barroso, conhecido como Braguinha (PSB).
“No dia do julgamento de Santa Quitéria, tinha um cidadão dentro desse plenário armado, ele estava armado dentro deste plenário. Graças a Deus que os nossos seguranças detectaram, conduziram para fora do ambiente”, disse o presidente do TRE-CE.
Raimundo Nonato se refere ao julgamento da tarde do dia 8 de abril, quando o Pleno do TRE-CE determinou, por unanimidade, manter o afastamento de Braguinha e seu vice-prefeito Francisco Gardel Mesquita Ribeiro, conhecido como Gardel Padeiro (Progressistas), dos cargos.
“Isso é um absurdo. Já pensou se um cara desse investisse contra a pessoa do presidente armado contra qualquer um dos senhores é uma forma de ameaça, ele simplesmente estava ameaçando a Corte”, disse o desembargador.
No entanto, a versão apresentada por Samuel Barroso, advogado de Santa Quitéria habilitado nos autos, contradiz essa narrativa. Samuel é irmão do prefeito interino do Município, Joel Barroso (PSB), e viajou para Fortaleza no dia 8 apenas para participar do julgamento.
Ao O POVO, o advogado explicou que Davi Gomes Ávila Mendes é guarda municipal de Sobral, cedido a Santa Quitéria, e o acompanhava como motorista.
“Davi sempre foi uma pessoa muito solícita. Então, como eu ia acompanhar essa sessão, ia fazer esse bate e volta em Fortaleza. Eu solicitei uma pessoa que pudesse dirigir, porque a gente volta cansado de fato e Davi não estava de serviço e disse: ‘Eu posso lhe acompanhar’”, explicou o advogado.
Segundo o desembargador, Davi Ávila foi identificado como segurança do prefeito e, ao ser questionado sobre o porte de arma, disse: “Não, mas eu sou o motorista do prefeito e tenho o direito de entrar armado até lá no Vaticano”.
O advogado Samuel Barroso reiterou que espera que o tribunal exiba as imagens ao público. “Com base no que ficou registrado pelas câmeras, facilmente pode se tirar conclusão de que é uma interpretação errada do que houve”.
Ainda durante a sessão plenária nesta terça-feira, 22, o assessor de Segurança e Inteligência, José Ximenes de Albuquerque, foi chamado para esclarecer a situação. Segundo Ximenes, a arma não chegou a entrar no plenário, pois foi identificada no detector de metal na portaria.
“Nós fomos verificar se ele podia portar arma e a PF disse que não poderia portar arma de fogo. Aí nós mandamos para Polícia Civil. A PC apreendeu a arma”.
Samuel Barroso reiterou que a arma foi acautelada e que Davi entrou no plenário após esse procedimento. Ele acredita que houve uma interpretação errônea dos fatos e que as câmeras de segurança do tribunal podem comprovar sua versão.
Em nota de esclarecimento enviada ao O POVO, Davi Gomes Ávila Mendes afirmou que a arma foi adquirida para “defesa pessoal” e que “jamais” foi utilizada de “forma indevida”. Ele frisou que estava “totalmente desarmado” nas dependências do Tribunal, “de forma tranquila e discreta”.
“Importante destacar que todos os atos praticados estão registrados pelas câmeras de segurança do Tribunal, as quais certamente confirmarão que minha conduta foi pautada pela legalidade, transparência e respeito às normas institucionais”, afirmou.
“Espero, sinceramente, que o próprio Tribunal Regional Eleitoral divulgue as imagens internas do circuito de segurança, a fim de que este equívoco seja claramente e publicamente esclarecido, restabelecendo a verdade e a justiça”, acrescentou o guarda municipal.
Leia a nota na íntegra:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
No dia 08 de abril de 2025, acompanhei o Dr. Samuel Furtado Barroso até a cidade de Fortaleza, onde ele participaria presencialmente de uma sessão no plenário do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Ao chegarmos à sede do TRE, já na recepção, porém antes mesmo do pórtico (detector de metais), identifiquei-me e, de forma espontânea, comuniquei aos responsáveis pela segurança que portava uma arma de fogo. Apresentei minha identificação funcional de Guarda Civil Municipal de Sobral, bem como o Certificado de Registro de Arma de Fogo (CRAF), devidamente expedido pela Polícia Federal.
Inclusive, esclareço que, ao chegarmos ao Tribunal, foi sugerido pelo Dr. Samuel que eu aguardasse no carro ou no restaurante, fora do edifício. No entanto, certo de que não haveria qualquer impedimento ou irregularidade em minha conduta, e confiando no procedimento padrão de acautelamento de armamento no interior do TRE, optei por seguir até a recepção, onde me identifiquei e segui todas as orientações legais.
A arma em questão, registrada e legalizada desde 2021, foi adquirida para defesa pessoal e da minha família, em virtude da natureza da minha profissão e dos riscos diários que envolvem a atuação na segurança pública. Ao longo dos meus anos de serviço, jamais utilizei tal armamento de forma indevida, nem representei qualquer tipo de ameaça ou conduta irregular, seja no âmbito profissional, seja no convívio social.
Após apresentar a documentação exigida, fui orientado pelos próprios agentes de segurança do Tribunal sobre os procedimentos para o acautelamento da arma, sendo então acompanhado pelo Policial Judicial Lailton até o último andar, onde, sob sua supervisão, acondicionei o armamento no cofre institucional, mediante o preenchimento do formulário padrão do TRE para este tipo de expediente. Recebi a chave para controle pessoal, conforme procedimento estabelecido pelos próprios servidores do Tribunal.
Todo o procedimento foi concluído com antecedência ao início da sessão, previsto para as 14h. Durante esse intervalo, permaneci dentro do Tribunal apenas de posse da chave onde minha arma estava acautelada. Frise-se: estive totalmente desarmado enquanto permaneci nas dependências do Tribunal, de forma tranquila e discreta. Às 14h50, fui chamado para prestar esclarecimentos e, com toda transparência, reiterei os fatos e as providências adotadas.
Importante destacar que todos os atos praticados estão registrados pelas câmeras de segurança do Tribunal, as quais certamente confirmarão que minha conduta foi pautada pela legalidade, transparência e respeito às normas institucionais.
Reafirmo que jamais houve da minha parte qualquer intenção de violar regras ou ameaçar a integridade do ambiente institucional. Desde o primeiro momento, colaborei com os protocolos e atuei com a serenidade que a função pública exige.
Por fim, reafirmo minha honra, ética e integridade como servidor público, atributos que construí ao longo dos anos e que jamais foram objeto de questionamento. Coloco-me, como sempre, à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos adicionais, certo de que a verdade prevalecerá.
Espero, sinceramente, que o próprio Tribunal Regional Eleitoral divulgue as imagens internas do circuito de segurança, a fim de que este equívoco seja claramente e publicamente esclarecido, restabelecendo a verdade e a justiça.
Davi Gomes Ávila Mendes
Guarda Civil Municipal de Sobral/CE
Servidor Público
Fonte: O Povo Online