Caem as vendas da indústria metalúrgica do Ceará

Um industrial cearense do setor metal mecânico contou ontem à coluna que as pequenas, médias e grandes empresas da área enfrentam extremas dificuldades, entre as quais se incluem a redução e até a suspensão de encomendas, o que tem reduzido a margem, que já é estreita por força da restrição da atividade causada, principalmente, pelas altas taxas de juros.

Um gigantesco grupo nacional brasileiro, com usinas no exterior e unidade de produção no Ceará, “teve de reduzir preço para poder vender”, como revelou a mesma fonte, que é muito bem enfronhada nos assuntos da metalurgia.

De acordo com esse industrial, “o mês de julho passado acendeu a luz da esperança, que foi logo apagada por este corrente mês de agosto, que está terminando sem ter começado para a indústria metalúrgica; foi o pior mês de agosto que o setor experimentou no Ceará desde o tempo em que eu comecei nele, e já faz um tempão”. A fonte apontou para o que chama de “uma interessante diferença”. Ele comentou:

“O panorama é complicado. Do nosso ponto de vista, que somos otimistas e cremos que o Brasil é um país cheio de oportunidades, há dois lados: o da grande empresa, que sofre mais porque não pode tomar decisões açodadas sob o risco de ficar sem rumo, e o da pequena empresa, que de modo mais ligeiro se adapta às circunstâncias, buscando uma brecha aqui, outra acolá. Boa parte da indústria brasileira, a cearense no meio, começa a sofrer a consequência dessa briga política com os Estados Unidos, e se isso durar mais tempo vai causar prejuízos incalculáveis”.

Ainda de acordo com a mesma fonte, os próximos três meses – setembro, outubro e novembro — serão decisivos, tendo em vista que o mês de dezembro sempre foi fraco. Na sua opinião, “se entrarmos em 2026 sob o peso dessa tarifaço, não sei o que acontecerá”. A fonte foi em frente:

“Estamos enfrentando dois grandes problemas: o primeiro, que se arrasta há algum tempo, é o da carência de mão de obra qualificada para os diferentes ramos da indústria; veja que, apesar de toda a crise gerada pelo tarifaço, há vagas abertas. O segundo problema é da falta de resposta do mercado, porque a demanda reduziu-se muito e o resultado financeiro das empresas, pelo menos da maioria delas, não será positivo no fim deste ano, e isto deve ser debitado, também, à conta dos juros altos, que só começarão a abaixar em 2026. Somos aquele paciente precisando respirar, mas o tubo de oxigênio está distante. Nossa situação é preocupante, porque ali na frente está surgindo a visão do abismo.”

Um outro industrial disse à coluna que tem colhido dos seus colegas empresários a notícia de que todos estão “dedicados ao esforço de fechar este ano pelo menos de pé”. Ele revelou que, tendo necessidade de adquirir uma nova máquina, desprezou o muito caro financiamento bancário e lançou mão das reservas de sua empresa para realizar a compra do equipamento. E deixou claro que está preocupado com o que acontecerá no resto deste ano e, mais ainda, no ano eleitoral de 2026.

“Por enquanto, está todo mundo anestesiado pelo noticiário sobre o tarifaço, a prisão domiciliar e o próximo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, as ameaças de Donald Trump contra autoridades brasileiras, a CPMI do INSS e as decisões do ministro Alexandre de Moraes, sem atentar para a crise fiscal que se agrava e ameaça, no mesmo ano de 2026, jogar a dívida e seus juros para a estratosfera”, advertiu o empresário industrial.

Ele tem razão, porque a questão fiscal é a que mais se acentua, uma vez que não há sinal da parte do governo de que sua gastança será reduzida. Pelo contrário, como tradicionalmente acontece em anos eleitorais, sob qualquer governo, de direita ou de esquerda, as despesas governamentais deverão subir substancialmente no próximo ano. E a culpa não é nem será apenas do Executivo, mas também do Legislativo e do Judiciário, onde, igualmente, parece não haver compromisso com a austeridade.

Resumindo: o avião da economia e da política brasileiras voa em zona de severa turbulência insuflada por ventos exógenos e sismos endógenos. Controlar uma aeronave dentro de um “cumulonimbus” é tarefa que exige muita habilidade do seu comandante.

FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE