“Temos uma boa nova de dois mil anos e precisamos saber comunicá-la hoje”, diz Silvonei José, voz do Papa no Brasil

Durante participação no Balanço Geral Ceará, da TV Cidade Fortaleza, nesta quarta-feira (15), o jornalista, teólogo e locutor Silvonei José, conhecido internacionalmente como a voz do Papa no Brasil, falou sobre a sua trajetória de mais de três décadas no Vaticano e sobre o papel da comunicação na evangelização em tempos de redes sociais e inteligência artificial.

Atuando há 36 anos na Rádio Vaticano, Silvonei carrega a missão de transmitir em português as palavras do Santo Padre ao mundo lusófono. “Sou uma pessoa privilegiada nesse sentido porque há 36 anos eu posso dizer que empresto um pouquinho a minha voz, o meu intelecto, para trazer e ser a ponte entre a capital da catolicidade e a nossa realidade brasileira”, afirmou. Segundo ele, o trabalho não se restringe ao Brasil: “Hoje somos quase 400 milhões de lusófonos no mundo. Falamos também para a África, levando um pouco do nosso jeito brasileiro a outras comunidades.”

Entre os momentos mais marcantes da carreira, Silvonei relembrou com emoção a morte de São João Paulo II, em 2005. “A gente esperava a morte dele, estávamos dentro da redação aguardando notícias, e quando chegou, não queríamos acreditar”, recordou. Ele descreveu o impacto da perda na capital italiana: “Roma foi invadida por mais de três milhões de pessoas. Para ir trabalhar no Vaticano, precisávamos da ajuda da polícia para abrir passagem no meio dos fiéis.”

O jornalista narrou um episódio que o marcou profundamente: “No dia em que tivemos o translado do corpo de João Paulo II do interior do Palácio Apostólico para a Basílica, ficamos apenas seis jornalistas junto dele por cerca de 15 minutos. O tempo parou. Foi um momento muito especial, porque eu tive a alegria de trabalhar com João Paulo II durante 16 anos.”

Silvonei José, voz do Papa no Brasil, em Fortaleza

Em Fortaleza, Silvonei cumpre agenda de formação e comunicação religiosa. Ele participa de encontros com sacerdotes, seminaristas e leigos na Faculdade Católica, além de um evento voltado a comunicadores da Igreja no Shopping Iguatemi. “Vamos conversar sobre inteligência artificial, o processo de comunicação de Leão XIII a Leão XIV, e entender como a Igreja foi se transformando e se posicionando de modo determinante também nesse campo, oferecendo contribuições éticas e morais”, explicou.

Questionado sobre o papel da comunicação na evangelização, especialmente entre os jovens, o diretor do Programa Brasileiro da Rádio Vaticano fez uma reflexão sobre o desafio das novas gerações. “Nós temos uma grande boa nova, uma boa notícia que existe há dois mil anos. Precisamos aprender a fazer esse conteúdo único chegar às realidades únicas de hoje”, disse. “O jeito que comunicamos hoje não é o mesmo de 10 ou 15 anos atrás. Precisamos nos reinventar como comunicadores para que a boa nova chegue a todos.”

Silvonei destacou ainda a necessidade de responsabilidade no uso da palavra. “Vivemos um momento da humanidade em que a possibilidade de pensar, agir e se manifestar é única. O problema é que estamos nos manifestando muitas vezes sem pensar. Isso está tirando um grande direito nosso: o de colocar a verdade acima de tudo.”

Ao falar sobre inteligência artificial, o comunicador citou o Papa Francisco: “Ele disse algo muito interessante: ‘Eu não tenho medo da inteligência artificial. Tenho medo da inteligência original.’ Porque é a nossa inteligência que alimenta a artificial. O problema não é o instrumento, mas o uso que fazemos dele.”

Silvonei também deixou uma mensagem aos comunicadores e fiéis: “Nós temos uma preocupação muito grande com uma palavrinha muito simples: verdade. Para nós, a verdade tem nome e significado. Uma das minhas conferências se chama ‘Do like ao amém’. O like confirma, mas o amém cria. Precisamos refletir se estamos apenas confirmando ou realmente criando consciência. A verdade — isso é bíblico — nos libertará.”

Quem é Silvonei José?

Natural de Guarapuava, no Paraná, Silvonei José possui um extenso currículo, que inclui o reconhecimento como Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno e da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém. Além de seu trabalho no Vaticano, ele atuou como professor de comunicação nas Universidades Gregoriana e Urbaniana e, atualmente, leciona no Centro Cultural da Embaixada do Brasil junto ao Governo Italiano.

Fonte: Gcmais