Há pouco mais de três anos, o técnico em eletrônicos sobralense Ronaldo Régis Melo Rocha, 53, iniciou uma luta contra o câncer. Com a laringe seriamente comprometida, ele precisou passar por uma laringectomia total, cirurgia que remove completamente o órgão do sistema respiratório responsável pela produção da voz. O procedimento foi realizado na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, onde Ronaldo também recebeu uma nova chance de melhorar sua qualidade de vida: uma laringe eletrônica. O aparelho, utilizado para favorecer a comunicação pós-câncer de laringe de pacientes que perderam o órgão e não conseguem mais usar a voz, está incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS).
“A experiência foi bastante satisfatória dentro do que eu poderia esperar. Eu tinha conhecimento que no meu caso só a retirada total da laringe poderia me dar mais algum tipo de ‘expectativa'”, relata Ronaldo, que ainda está em processo de adaptação à nova forma de se comunicar.
O médico Madson Roger Filho, cirurgião de cabeça e pescoço com atuação na área de oncologia na Santa Casa de Sobral, explica que a laringe eletrônica é indicada para pacientes laringectomizados ou traqueostomizados que apresentem disfunção transitória ou permanente da laringe. “Todos os pacientes que passam por laringectomia total podem utilizar o dispositivo, desde que consigam se adaptar a ele. É uma cirurgia de grande porte que requer suporte multiprofissional e, quando bem indicada, aumenta a sobrevida nos casos de câncer de laringe”, destaca. Nesse processo, os pacientes precisam de uma abordagem multidisciplinar. O fonoaudiólogo tem papel central nesse processo de reabilitação.
Segundo o especialista, a laringe eletrônica restaura uma função essencial à convivência social: a voz. “A laringe eletrônica traz consigo algo que o paciente perdeu, que é extremamente importante no convívio social, a voz e a possibilidade de se comunicar. Isso impacta no prognóstico da doença, diminui os riscos de depressão e de isolamento social, tendo em vista que a cirurgia traz essa sequela definitiva”, explica Madson Roger.
O especialista explica que o dispositivo funciona por meio de vibrações que, em contato com a pele, geram sons articulados pela cavidade oral. Apesar de o som inicialmente apresentar um tom robotizado, ele permite comunicação efetiva e compreensão pelo ouvinte, devolvendo ao paciente o poder da fala.
Para o médico, o uso da laringe eletrônica representa esperança para os pacientes e um avanço para o hospital. “Para os pacientes é uma esperança, verdadeira chance de cura. Para o hospital, é um grande avanço o uso da tecnologia da laringe eletrônica, pois possibilitar a fala significa trazer maior qualidade de vida e consequentemente impacta na saúde e no prognóstico da doença”, afirma Madson Roger.
De acordo com ele, o dispositivo é fácil de manusear e de manter. É necessário calibrar o aparelho, permitindo que o usuário selecione sons mais graves ou mais agudos, além de realizar trocas periódicas de pilhas ou baterias, que são a fonte de energia do equipamento.

