No momento em que o preço da gasolina atinge níveis recordes, o consumidor brasileiro está recorrendo mais ao etanol para abastecer o carro. Em setembro, a diferença de preço entre os dois combustíveis alcançou o maior patamar de 2018, de R$ 1,83 por litro, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A expectativa é de que o cenário permaneça assim até novembro, quando começa o período de entressafra da cana-de-açúcar, insumo do etanol, no Centro-Sul, principal região produtora.
Na primeira semana do mês, a coleta de preços da ANP demonstrou que um litro de álcool custa 59% do da gasolina, na média do Brasil. Para o consumidor, vale à pena optar pelo etanol se ele custar até 70% do valor da gasolina, que tem mais poder calorífico e, por isso, melhor rendimento. Essa conta ficou especialmente favorável ao álcool neste mês porque a oferta do produto cresceu e a gasolina vendida nas refinarias da Petrobrás ficou ainda mais cara. Com uma política de paridade com o mercado internacional, a estatal tem reajustado sucessivamente a tabela para acompanhar as oscilações externas e também a valorização do dólar frente ao real.
Na quinta-feira, 13, a Petrobrás anunciou um novo aumento de 1% no preço médio do litro da gasolina nas refinarias, para R$ 2,25. O reajuste, que entra em vigor nesta sexta-feira, 14, representa nova máxima histórica desde fevereiro, quando a estatal passou a divulgar o preço médio diariamente.
O litro do álcool está custando, em média, R$ 2,69 no País, enquanto o da gasolina sai por R$ 4,52. Em São Paulo, o biocombustível está mais barato, R$ 2,48. “Esse é um bom momento para o consumidor aproveitar. É um período de alta da colheita da cana. Mas em novembro e dezembro começa a chover e os produtores vão recuperar seus preços”, afirmou o professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ (GEE) Edmar Almeida. De janeiro a julho, a produção de etanol no Brasil chegou a 9,7 bilhões de litros, 40,5% mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a ANP.
Almeida avalia, no entanto, que a concorrência com o etanol não fará com que a Petrobrás reduza a gasolina, porque a empresa mantém firme a proposta de acompanhar as oscilações externas da commodity. Além disso, com as eleições, a expectativa é de elevação do dólar, que tem impacto direto nos preços.
Em um posto na região central de São Paulo, a gasolina já era vendida a mais de R$ 5 na tarde de quinta. O etanol, que há alguns dias custava cerca de R$ 2,50, segundo os clientes, estava sendo vendido por quase R$ 2,70 o litro.
No bolso
“Sinto que os preços aumentaram muito, principalmente aqui na região central. Eu gastava, em média, R$ 650 por mês no começo do ano para abastecer com gasolina, mas agora pago R$ 800”, diz o motorista Saulo de Jesus, de 54 anos, que trabalha com um veículo que não é flex.
Segundo gerentes de postos ouvidos pelo Estado, os combustíveis têm sido vendidos aos postos desde o começo desta semana 10% mais caros. Alguns deles optaram por fazer reajustes menores, sacrificando a margem de lucro, para não perder clientes.
O presidente do Sindicato Comércio Varejista Derivados Petróleo do Estado São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia, diz que há postos em São Paulo em que metade do seu volume de vendas já é de etanol – a divisão costuma ser de 60% para gasolina e 40% para etanol. “A demanda aumentou a partir de junho, logo depois da greve dos caminhoneiros.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Jornalista, editor chefe e blogueiro raiz