Professores e estudantes de Santa Quitéria e Itatira são selecionados para intercâmbio em Portugal

Maria Filipa, Padre Mororó, Bárbara de Alencar e tantas outras figuras que, costumeiramente, são esquecidas pelos livros didáticos de História, ilustraram as histórias em quadrinhos (HQs) das crianças do projeto educacional “Era Uma Vez… Brasil”.

Com brilho nos olhos e o coração ansioso por novos sonhos, as crianças, selecionadas para um intercâmbio em Portugal pelo programa, compareceram à Polícia Federal para emitir seus passaportes, nesta segunda-feira, 2

A viagem, inteiramente paga por patrocinadores de diversos estados do País e pela empresa de consultoria e gestão de projetos criativos Origem Produções, será realizada no dia 11 de novembro próximo e terá duração de dez dias.

Ao todo, são 18 alunos e dois professores selecionados, além dos 700 alunos e mais de 60 professores que puderam participar das atividades e aulas da iniciativa.

Fundado em 2017, o projeto vai para a 7ª edição neste ano, sendo a primeira vez que municípios cearenses participam da iniciativa — Santa Quitéria e Itatira. Outros três estados brasileiros participam do programa, são eles: Bahia, Pernambuco e São Paulo.

Segundo a coordenadora geral do “Era Uma Vez… Brasil” no Ceará, Lorrayne Albernaz Landi, a temática histórica escolhida para ser debatida pelos alunos foi a independência do País.

“Todo ano o projeto visa fazer várias atividades. Primeiramente, de formação com professores de história, onde levamos vários formadores específicos da temática para ministrar aulas para eles. Depois, temos as atividades voltadas para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, que visam a difusão do conhecimento sobre a cultura nacional”, explica.

A titular da equipe de Responsabilidade Social do Consórcio Santa Quitéria (empresa patrocinadora do projeto), Érica Palhares, pontua que a escolha dos municípios cearenses participantes se deu em cumprimento aos critérios sociais e históricos das cidades.

De acordo com Érica, a inclusão das cidades veio após as análises feitas sobre os perfis sociais dessas regiões. “Levamos em conta a grande tradição em investimentos em educação que o Estado tem, bem como os interesses locais por pautas culturais e de resgate das tradições”, explica.

O projeto

Os alunos contemplados passaram por um processo de desenvolvimento em história do Brasil, com foco nas narrativas que valorizam personagens de grupos minorizados, além das atividades de desenvolvimento cultural, como ilustração, roteirização, edição de vídeos e expressão”, destaca Érica Palhares.

Ainda de acordo com ela, foram selecionados para o intercâmbio cultural os alunos que mais se desenvolveram ao longo dos meses de atividades. Os professores também foram contemplados pelas atividades do projeto e os que se engajaram e trouxeram melhores resultados para a jornada de aprendizado dos alunos também foram contemplados com esse mesmo intercâmbio.

As atividades de formação para professores ocorreram entre os meses de março e maio. Ao todo, foram sete formações sobre a história nacional. A partir das aulas, os professores foram orientados a desenvolverem projetos nas suas escolas para o ensino da disciplina.

A segunda parte das atividades, desta vez, realizada pelos alunos, foi a produção de histórias em quadrinhos, escritas e desenhadas por eles, sob orientação dos docentes. A partir deste ponto, o projeto passou a ser dividido em fases de caráter classificatório.

A primeira, era a produção do material; a segunda, a seleção para uma semana de confinamento em um campus de uma escola profissionalizante localizada em Santa Quitéria; e a terceira, a seleção para um intercâmbio gratuito para Portugal, no qual 18 alunos e dois professores dos dois municípios foram selecionados.

Histórias do Ceará

Em julho, 50 histórias de cidades do Ceará participantes foram selecionadas para a segunda fase. No local, foram realizadas apresentações culturais, formações e produções audiovisuais feitas pelos próprios alunos.

O estudante da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dona Livramento Araujo, Matheus de Sousa, de 13 anos, conta que não esperava ser convocado para a viagem. Ele produziu uma HQ sobre a “verdadeira história de Dom Pedro”, contando como aconteceu a proclamação da independência.

“Toda a experiência já valeu a pena. Eu não acreditava nem que ia passar para a segunda fase em Santa Quitéria, imagina para o intercâmbio. Mas minha mãe confiava em mim, que eu ia conseguir, e minha professora me deu todo o apoio para escrever a HQ, então decidi acreditar em mim mesmo também”, relata.

A mãe de Matheus, Rozângela de Souza, de 45 anos, conta que o menino sempre foi “desenrolado”, mas que, por ser uma realidade distante da qual eles vivem, o sonho de levar o filho para conhecer o exterior parecia impossível. Dona de casa e mãe solteira, ela diz que o orgulho do filho “não cabe no peito”.

“Ele se esforçou muito. A professora e toda a coordenação do projeto estão de parabéns. Eu o incentivei desde o início a participar, para o próprio conhecimento. Estava até desacreditando que a viagem realmente poderia ser uma possibilidade, mas não deixei de torcer por ele. Quando saiu o resultado, naquele auditório lotado, eu comecei a gritar e chorar. Meu menino, meu orgulho”, diz emocionada.

A aluna da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental 7 de Setembro, Hellem Santos, de 13 anos, diz que o projeto impactou positivamente toda a sua rotina dentro e fora de sala de aula. A menina, que vem do pequeno município de Itatira, agora alçará voo junto com as outras crianças para conhecer mais sobre a cultura portuguesa, visitando museus e pontos turísticos de diversas cidades do país.

“Fui acompanhando as aulas e me dedicando cada vez mais. Quando passei para a segunda fase, fui para o confinamento. Fizemos tantas amizades que saímos de lá como uma família. Depois de participar do projeto, minhas notas subiram muito. Não só na disciplina. Diminui até o tempo que passo no celular. Percebi que meu desempenho mudou completamente, dentro e fora da escola”, conta.

Um dos professores cearenses selecionados para a viagem foi Ronaldo Rodrigues, de 36 anos. Ele afirma que a experiência transformou sua própria visão de mundo.

“Ainda que seja professor há alguns anos, com o projeto, pude revisitar o meu eu historiador. Aquele que tem sede pela descoberta. Esse projeto é a realização de um sonho antigo. Nunca me esquecerei das formações e do brilho nos olhos dos alunos durante o processo de produção. Com certeza, transformará a minha forma de dar aula tanto quanto transformou a minha vida”, conclui o professor.

Fonte: O Povo