Apae Sobral atua na qualidade de vida a centenas de pessoas

Não tinha na cidade nenhuma instituição que atendesse esse público ( Fotos: Marcelino Júnior )

Há oito anos, a vida da dona de casa Ana Luiza da Silva Lopes mudou por completo, após o nascimento da segunda filha. A rotina foi quebrada com a chegada do bebê que, aos poucos, foi chamando uma atenção excessiva, não apenas da mãe preocupada, mas também do pediatra que a acompanhava. Após uma série de exames, a filha de Ana Luiza apresentou sinais de autismo, confirmado aos dois anos de idade.
Para atender às necessidades da menina, Ana Luiza abandonou o trabalho e passou a se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento da criança, hoje com oito anos. E depois de anos de tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Centros de Reabilitação, a menina foi levada à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Sobral (Apae).
Ana Luiza mora no município de Alcântaras, na Zona Norte, a cerca de 30Km de Sobral, e traz a filha para atendimento na Apae duas vezes por semana, com atividades que ocupam o tempo da criança, das 7h30 às 10h30.
A menina, assim como todos atendidos pela Apae em idade escolar, também frequenta o ensino regular e, segundo a mãe, isso só tem sido possível com o trabalho da Associação. “Faz cerca de dois anos e meio que ela iniciou o tratamento. Posso dizer que, a partir daí, tem se desenvolvido muito. Na Apae, minha filha tem tudo o que precisa para crescer com mais autonomia. O acompanhamento é integral, tanto na parte de educação, quanto na psicológica, motora e de interação social”, diz.
Estrutura
Fundada em 1990, tendo à frente Conceição Sousa Ponte, sua idealizadora e presidente, a Apae de Sobral é resultado do esforço contínuo de pais, familiares e amigos de pessoas excepcionais, que não tinham na cidade nenhuma instituição que atendesse às necessidades desse público específico.
Foi daí que passou a receber ações de defesa de direitos e prevenção, orientação, prestação de diversos serviços e apoio à família, direcionado à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência intelectual e múltipla, além da promoção de valores, como ética, humanidade e amor.
A entidade possui sede própria, dividida em três prédios, onde se integram as áreas de educação, saúde, cultura, esporte e lazer, formando uma rede socioassistencial com referência em habilitação e reabilitação, convivência e fortalecimento de vínculos entre as pessoas atendidas e seus familiares.
Além de doações de sócios e da execução de diversos serviços, os recursos também vêm de projetos sociais e da participação em seleções públicas ou concursos

Parceiros
Atualmente, a Apae mantém convênios com a Rede SUS; com a Ação Continuada, que é um conjunto de ações de proteção social que visam o fortalecimento de indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade; e com a Secretaria de Educação do Estado e a Prefeitura de Sobral, na manutenção de algumas ações desenvolvidas.
Além de doações de sócios, que contribuem mensalmente para a manutenção da instituição e da execução de diversos serviços, os recursos também são provenientes da elaboração de projetos sociais nas diversas áreas e na participação em seleções públicas ou concursos. A instituição também pleiteia doações de mercadorias apreendidas pela Receita Federal com a finalidade de angariar recursos, por meio de feiras e bazares.
“Abrimos as portas com muito sacrifício, mas o tempo mostrou que estávamos certos em levar adiante o sonho de proporcionarmos esse atendimento de qualidade aos excepcionais. Hoje, contamos com 59 atendimentos diversos, entre eles psicologia, fisioterapia, informática, cursos, enfim, tudo o que abrange a assistência social”, diz Vera Maria Carneiro, tesoureira e fundadora da Apae.
“Aqui, todos gozam de atendimento que uma boa escola pode oferecer, e tudo de graça. Os desafios continuam para este ano, onde em breve abriremos nossa lojinha para vendermos artigos variados com o intuito de conseguirmos mais recursos que ajudem a manter a continuidade do trabalho”, finaliza.
Atenção
A Apae dispõe de pouco mais de 50 funcionários, que trabalham diariamente para que os alunos, divididos em turmas de zero a três anos, e dos cinco, até a fase adulta, se desenvolvam e busquem o espaço deles na sociedade, como é o caso da dona de casa Veronice Nascimento, mãe da Vanessa, de oito anos, que é atendida praticamente desde que nasceu, com síndrome de down. Sempre atenta, Veronice acompanha o dia a dia da filha.
“A Apae é a segunda casa da Vanessa, que é filha única e tem o carinho de todos aqui. Ela é cercada de atenção, como se todos fôssemos uma só família. Quando ela chegou aqui, não andava e não se expressava. Hoje, ela tem uma energia contagiante e, mesmo com dificuldade, consegue se fazer entender”, disse a mãe, emocionada.
Apoio necessário
Quem também encontrou na Apae o apoio que precisava para ver o neto crescer com saúde e mais autonomia foi a aposentada Margarida Ximenes, que acompanha atentamente o tratamento de fisioterapia do Tales, de dois anos.
A criança tem Ataxia, transtorno neurológico hereditário, em alguns casos, caracterizado pela falta de coordenação de movimentos musculares voluntários e de equilíbrio, sendo normalmente associada a uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro. A mesma doença, que vitimou dois tios de Tales, por falta de atendimento, quando ainda eram crianças, se manifestou após ele completar um ano de vida.
A Ataxia não tem cura permanente, mas um tratamento à base de medicamentos podem reduzir os sintomas, assim como os benefícios proporcionados pela terapia ocupacional e fisioterapia, que podem melhorar o funcionamento cotidiano e social do paciente.
Consciente dos desafios que a vida tem imposto ao pequeno Tales, a avó da criança tem esperanças quanto ao desenvolvimento do neto, com o apoio encontrado na Associação.
“Eu não tinha informação sobre essa doença, e aqui não existia tratamento. Agora, os tempos são outros, e o meu neto tem a oportunidade que meus dois filhos não tiveram, de gozar de uma melhor qualidade de vida. Cada passo que o Tales dá, cada movimento que ele faz com ajuda dos aparelhos da fisioterapia, me deixam emocionada. Eu fico acompanhando a energia dele, o esforço para se manter equilibrado, e sinto que, até aqui, temos ido bem”.
Fique por dentro
Ações são complementares às da escola
A sistemática aplicada pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Sobral é complementar à escolar regular, pois o atendimento só se dá com a comprovação de matrícula dos alunos na rede de ensino. A Associação funciona na Rua Maestro Acácio Alcântara, 164, no Bairro Junco. Doações em dinheiro podem ser feitas por meio da conta corrente número 21021-8, agência 4272-2- Banco do Brasil.