Avó se emociona ao ver neto aprovado em Medicina usando jaleco: ‘Momento que ela mais sonhava’

Morador da zona rural de Brejo Santo, Gabriel Souza dos Santos carrega o sonho de trabalhar como médico da própria comunidade

Faltando dez dias para iniciar as aulas de Medicina na Universidade Federal do Cariri (UFCA), Gabriel Souza dos Santos, de 21 anos, chegou à casa da avó, Maria de Lourdes Alves, com uma surpresa: o jaleco de médico, seu futuro uniforme. Em vídeo que repercutiu nas redes sociais, é possível ver o momento em que o cearense pergunta, alegre: “Ficou bonito?”. A reação de dona Maria comove. Faltam palavras e ela corre para abraçá-lo, chorando.

“Era a primeira vez que me via daquela forma, apesar de já saber da aprovação. Nenhuma das pessoas da família foi para o caminho do estudo, sempre pela agricultura. Meu pai é pedreiro e, para ela, que foi uma das pessoas que mais me apoiou com os estudos, foi gratificante. Era o momento que ela mais sonhava. Ela dizia que queria estar viva para ver eu passar”, revelou Gabriel, em entrevista ao Diário do Nordeste.

Apesar de ter descoberto a aprovação em janeiro deste ano, a cena em que aparece de jaleco foi registrada apenas na última terça-feira (27). O jovem morador da zona rural do município de Brejo Santo — “no Sítio Onça”, fez questão de frisar durante a conversa — sempre estudou em escola pública e precisou tentar Medicina três vezes até receber a tão sonhada aprovação.

Ainda que a caminhada tenha sido dele, Gabriel vê essa conquista como coletiva. “Quando não consegui passar em 2023, pensei em desistir, procurar outra coisa, mas ela, assim como todos meus familiares, apoiou muito o meu sonho. Ela foi uma das que mais me apoiou”.

Propósito com o estudo

E esse apoio da avó vinha não apenas na forma de conselhos, mas também de gestos de cuidado. Apesar de não morar com dona Maria, Gabriel ia para a casa dela todo dia de manhã para tomar um café bem reforçado.

“Ela sempre me esperava de manhã para passar lá. Eu saia às 8h da manhã e voltava às 9h30 da noite. Ela fazia meu café e fazia minha merenda. Costumava até deixar o jantar para mim”, contou.

Para Gabriel, essas visitas diárias também foram uma forma de se lembrar do propósito que o motivava a seguir tentando Medicina: “Quero mudar as nossas vidas através do estudo. Ela sempre foi de família humilde, e quero que meus avós e meus pais possam sossegar, ter uma vida melhor”, afirmou.

 

“Minha motivação era a possibilidade de mudar de vida, de sair desse ciclo que os filhos dela não conseguiram. E agora estou conseguindo, através dos estudos e dos sacrifícios que eles fizeram. Espero proporcionar para eles, mais para frente, uma vida melhor”.
Gabriel Souza dos Santos
Estudante de Medicina

Com uma fé nos estudos, revelou ainda que as portas foram se abrindo em seu caminho. “Apesar de ser de uma origem humilde, de uma zona rural, a gente tem que persistir apesar disso. Apesar dos entraves. Eu acho que a educação hoje, para o pobre, acaba sendo a melhor forma de você conseguir o retorno, porque algo que não podem tirar da gente é o estudo, o saber”, disse.

‘Me imagino atendendo o povo da minha região’

Nesse processo de dedicação aos estudos, Gabriel chegou a passar em faculdades de Medicina nos estado da Bahia e de São Paulo. No entanto, ainda que tenha conseguido financiamento estudantil, decidiu ficar e tentar uma aprovação na UFCA, universidade próxima do próprio Município.

Em sua fala, o jovem citou a importância da interiorização das universidades para a realização de seu sonho. “Meu maior desejo era de estar perto da família, não me distanciar. Era o principal lugar que eu queria. Eu consegui passar aqui perto, e é muito importante ter esse lugar perto porque acaba incentivando a gente. No meu caso, só de pensar em ir para longe, mesmo sendo no Nordeste, ficar longe da minha família, acabaria me desmotivando”.

Gabriel ressaltou em diversos momentos como gosta de estar no Cariri e fazer parte dessa região do Ceará. “Eu me imagino muito, chego até a arrepiar, mas me imagino atendendo o povo da minha região. Eu não sou uma pessoa que pretendo ir para longe, eu gosto do meu lugar, do meu sítio e sempre que possível, eu vou estar procurando um lugar aqui perto para trabalhar”.

Fonte: Diário do Nordeste