Caso Lázaro: com morte do serial killer, megaoperação policial chega ao fim, mas investigações continuam
A megaoperação policial que fechou o cerco contra o homem mais procurado do Brasil nos últimos dias chegou ao fim nesta segunda-feira, 28. Após 20 dias consecutivos de buscas, Lázaro Barbosa, conhecido como o “serial killer do DF”, teve o seu paradeiro descoberto. Ele foi encontrado pelas forças de segurança de Goiás em uma área de mata fechada próxima da casa de sua ex-sogra, no município de Águas Lindas (GO). Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado, ao avistar os policiais, o criminoso teria reagido à prisão, dando início a uma troca de tiros que terminou com sua morte.
“Nós o cercamos e ele teve a oportunidade de se entregar, mas não quis”, disse o titular da pasta, Rodney Miranda. Segundo o secretário, Lázaro estava armado com uma pistola .380. “Ele descarregou a arma contra os policiais. Não tivemos outra alternativa a não ser revidar”, completou. O secretário ainda afirmou que o criminoso foi socorrido com vida e levado ao Hospital Municipal Bom Jesus, onde morreu logo após dar entrada. A equipe médica que realizou o atendimento contabilizou 38 perfurações a bala no corpo do criminoso.
No momento da captura, Lázaro carregava cerca de R$ 4.400. O dinheiro, segundo Rodney, reforça os indícios apontados nas investigações de que o fugitivo estaria planejando deixar o Estado. Segundo a polícia civil, durante o tempo em que esteve na mira do cerco policial, o serial killer teria cometido uma sequência de novos crimes: roubou carros, armas e comida, fez moradores de uma chácara reféns, baleou funcionários de uma fazenda e chegou a trocar tiros com policiais.
Com 270 agentes escalados, a operação envolveu policiais militares do Goiás, Distrito Federal, além de agentes da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal. A força-tarefa fez buscas terrestres e aéreas, utilizando drones e helicópteros com câmeras de longo alcance e sensores de movimento.
O desfecho da operação policial foi comemorado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que exaltou o trabalho das forças de segurança envolvidas na ação. “Tá aí, minha gente, como eu disse, era questão de tempo até que a nossa polícia, a mais preparada do País, capturasse o assassino Lázaro Barbosa. Parabéns para as nossas forças de segurança. Vocês são motivo de muito orgulho para a nossa gente! Goiás não é Disneylândia de bandido”, escreveu Caiado em seu perfil no twitter ao anunciar a captura de Lázaro.
CPF Cancelado
Quem também usou as redes sociais para festejar a captura do serial killer foi o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “CPF cancelado!”, comemorou em publicação feita no twitter. Bolsonaro ainda parabenizou os policiais que participaram da operação: “Parabéns aos heróis da PM-GO por darem fim ao terror praticado pelo marginal Lázaro” e acrescentou que a morte de Lázaro representa “menos um para amedrontar as famílias do bem”.
LÁZARO: CPF CANCELADO!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 28, 2021
O presidente faz menção ao caso desde quando as buscas ganharam forte repercussão nacional. No dia 19 de junho, Bolsonaro publicou um vídeo manifestando apoio aos policiais envolvidos na operação e afirmou que Lázaro seria “no mínimo, preso”. Dois dias antes, ele usou a fuga do criminoso para reforçar o apoio ao armamento das populações rurais. “Tem um maníaco na região do DF e Goiás cometendo barbaridade, matando gente, estuprando… Esse elemento tentou entrar numa chácara e foi repelido porque o cara tinha uma [arma] calibre doze lá dentro. Arma é segurança, arma é vida”, disse o presidente a jornalistas.
Caçada ao criminoso
Lázaro estava na mira das forças de segurança desde o dia 9 de junho, quando matou um casal e dois filhos em uma chácara de Ceilândia (DF). Ele teria entrado no local para assaltar. As vítimas, mortas a facadas e tiros, foram os empresários Cláudio Vidal, 48, a mulher dele, Cleonice Marques, 43, e os dois filhos do casal, Gustavo Marques Vidal, 21, e Eduardo Marques Vidal, 15.
Desde o quádruplo homicídio (matar para roubar), a polícia afirmou ter ouvido relatos de que Lázaro teria invadido outras propriedades no DF e em Goiás. No dia 12, ele atirou em quatro pessoas, invadiu fazendas e colocou fogo em uma casa ao fugir da polícia.
No último dia 13, o suspeito furtou um carro e o abandonou na BR-070 após avistar uma barreira policial, dando sequência à fuga para uma mata. Na terça-feira, 15, Lázaro fez uma família de refém, levando um casal e a filha de 16 anos para uma mata na região de Cocalzinho de Goiás. Houve troca de tiros no local com as equipes policiais, que conseguiram resgatar as três pessoas sem ferimentos.
Na última quinta-feira, 24, duas pessoas, um fazendeiro e um caseiro, foram presas suspeitas de ajudar Lázaro a despistar a ação policial. Habilidoso em áreas de matas fechadas, ele caminhava por dentro de riachos para não deixar pegadas e dificultar as buscas dos cães farejadores.
O suspeito chegou a ligar para a mãe e informar que não agiu sozinho em um dos crimes. Em depoimento, o caseiro afirmou que o criminoso vinha dormindo há cinco dias na fazenda onde ele trabalhava, no distrito de Cocalzinho de Goiás. Ele ainda contou que o dono da propriedade ajudava Lázaro, dando alimentos e deixando que ele dormisse na casa.
Ficha criminal
Natural do município de Barra Mendes (BA), distante a cerca de 500km de Salvador, Lázaro Barbosa Sousa tem uma extensa ficha criminal. A sua primeira passagem pela polícia é datada de 2007, quando ela teria cometido um duplo assassinato, ainda na sua cidade de origem. Preso pelo crime, ele conseguiu escapar da cadeia dez dias depois.
Contra ele também pesam acusações de estupro, porte ilegal de arma de fogo e roubo. Ele foi capturado pela segunda vez em 2013, progrediu para o regime semiaberto e novamente fugiu da prisão após uma saída temporária na Páscoa, em 2018.
Em 2013, um laudo psicológico feito no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), em Brasília, descreveu Lázaro como “psicopata imprevisível”, com comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio.
Investigações continuam
A morte do fugitivo Lázaro Barbosa, segundo a Polícia Civil de Goiás, não encerra o trabalho de investigações que, a partir de agora, centrará esforços para esclarecer se o acusado de ter cometido múltiplos assassinatos recebeu ajuda para escapar do cerco montado pelo agentes de segurança por 20 dias.
“As investigações não acabam aqui. Ainda temos algumas pessoas para investigar e prender”, disse o secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda. Segundo ele, a Polícia Civil já está investigando a suspeita de que Lázaro agia como matador de aluguel e contou com o auxílio de pessoas que não queriam que ele fosse preso.
O principal alvo da apuração da suposta ligação de Lázaro com matadores é, de acordo com Miranda, o dono de uma chácara onde o fugitivo chegou a se esconder e obter alimentos, Elmi Caetano Evangelista, preso na última quinta-feira (24). “O empresário [chacareiro] que está preso é um dos líderes da organização”, afirmou o secretário, afastando a tese de que Lázaro atuava sozinho.
Miranda chamou atenção para o fato de que Lázaro trocou de roupas várias vezes (“Uma prova de que ele tinha uma rede que o acobertava”) e, ao ser morto, estava com cerca de R$ 4,4 mil no bolso. “Tinha gente interessada em que ele não fosse preso”, reiterou o secretário.
Fonte: OPovo