Cidade cearense reelegeu chapa 100% feminina para Prefeitura, mas não escolheu nenhuma vereadora

Ibaretama terá mulheres como prefeita e vice, mas não terá representação feminina no legislativo municipal

Cidade cearense localizada no Sertão de Quixeramobim, Ibaretama irá vivenciar, a partir de 1º de janeiro de 2025, um cenário incomum na representação política da Prefeitura e da Câmara de Vereadores.

No último 6 de outubro, os mais de 13,5 mil eleitores do município reelegeram uma chapa formada por duas mulheres. Elíria Queiroz, do PSD, terá mais um mandato como prefeita de Ibaretama, tendo como companheira de gestão a vice Carlinha (PSB). Contudo, a escolha do eleitorado para a Câmara Municipal de Ibaretama foi no sentido oposto: a composição do Legislativo municipal será 100% masculina.

Das nove vagas disponíveis na Casa, nenhuma foi conquistada por uma mulher. Ibaretama é uma das 11 cidades cearenses onde não foram eleitas vereadoras nas eleições municipais de 2024. O número é menor do que na disputa eleitoral de 2020. Naquele ano, 16 câmaras municipais do Ceará ficaram sem representação feminina.

Esse será o terceiro mandato de Elíria Queiroz como prefeita de Ibaretama. Antes disso, ela ocupou cadeira na mesma Câmara de Vereadores onde, a partir de janeiro, não haverá representação feminina.

Diário do Nordeste contactou a prefeita Elíria Queiroz para saber como ela avalia essa diferença na representatividade feminina nos diferentes Poderes do Município. No entanto, não houve devolutiva até a publicação desta reportagem.

Sub-representação

A socióloga Paula Vieira, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), pontua que essa ausência de mulheres nas câmaras municipais prejudica a representatividade de parcela importante do eleitorado.

Em Ibaretama, por exemplo, as mulheres representam 49,6% do eleitorado — o equivalente a pouco mais de 6,7 mil pessoas. Na população geral, as mulheres representam 48,8% do total de residentes de Ibaretama.

“Essa sub-representação tem um impacto direto na vida da população, porque as mulheres elas estão diante da administração do cuidado”, cita Vieira, em referência a demandas que são mais exigidas de mulheres, como o cuidado com crianças e idosos e o trabalho doméstico, por exemplo. São, portanto, quem tem mais necessidades em áreas como Saúde e Educação.

“Esse é o grande prejuízo: as pessoas que estão implicadas nos cotidianos, que estão na dinâmica das políticas públicas não conseguem chegar para construir algo que minimize algumas ausências ou possibilidades de melhorias na educação e na saúde, e assim por diante”, completa.

Cidades com prefeitas, mas poucas vereadoras

Outras cidades cearenses que serão comandadas por mulheres a partir de 2025 também irão contar com uma representação feminina pequena nos legislativos municipais.

Assim como em Ibaretama, em Piquet Carneiro nenhuma vereadora foi eleita em 2024 — as 11 vagas da Câmara Municipal serão ocupadas apenas por homens.

Em outras cidades, o mandato de vereadoras será solitário: no total, 32 câmaras municipais irão contar com apenas uma mulher no Legislativo municipal. Destas, 11 são de cidades que terão uma mulher como prefeita a partir de janeiro de 2025.

Em municípios como Beberibe, Groaíras e Tauá, por exemplo, apenas uma vereadora foi eleita em 2024, mas a chapa vitoriosa para a Prefeitura é 100% feminina, com prefeita e vice eleitas para o próximo mandato no Executivo municipal.

Das 38 prefeitas eleitas no Ceará em 2024, nenhuma governará uma cidade com maioria feminina na Câmara de Vereadores. Apenas seis cidades cearenses terão mais mulheres do que homens na composição, contudo nenhuma delas elegeu uma mulher para a prefeitura.

Fonte: Diário do Nordeste