Coluna: Conversando com a mãe Dilma, por Silveira Rocha

Olá mãe Dilma, como vai, tudo bem?

Eu ia atender sim. A senhora acha mesmo que eu iria deixar de escutar as suas estorinhas? Só não atendi logo porque eu estava no Cartório Eleitoral cadastrando meus dedos. Sim, é claro que é para votar pela sua reeleição. Meus dedos são todos admiradores da senhora. Apenas um vota, porém, os outros quatro atuam como cabos eleitorais. O cata piolhos, quando escuta seu nome fica logo todo animado, pois é o eleitor; o fura-bolo fica o tempo todo apontando para o seu retrato; o maior de todos se levanta, mas é para cumprimentá-la, enquanto o seu vizinho fica tentando convencer o mindin de que ele é pequeno, mas não é salário.
Mãe, eu nem lhe conto. E não é que um alemão alugou um carro numa locadora aqui no Brasil, e quando ia saindo o funcionário o alertou sobre os perigos dos buracos nas estradas. O Alemão ficou pasmo, e perguntou? E aqui tem buracos no asfalto? Abestado, né mãe, ele não sabe o que é buraco é em tudo.
Na verdade aqui no Brasil não há buracos no asfalto e sim asfalto nos buracos, um tiquinho que as empreiteiras colocam para enganar os trouxas. Mãe me disseram que os asfaltos da Itália e da Alemanha têm 20 centímetros de espessura, e que são feitos para não precisarem de reparos. Que exagero, né? Pois os nossos têm no máximo cinco centímetros, e são feitos para ser recuperados todos os anos. Toda vez que chove é um sofrimento, pois o asfalto, com medo de relâmpagos e trovões entra chão adentro.
Falando de buracos nas estradas, um dia desses um fusca de amigo meu despareceu e ele achou que tinha sido roubado, quando na verdade ele entrou num buraco e não teve forças para sair. Foi preciso contratar duas carroças de burros para puxar o coitado.
Mãe, a senhora deveria articular um convênio entre o trânsito com o pessoal das igrejas evangélicas, mais ou menos assim: as igrejas pedindo dinheiro para levar o irmão para o Céu, e o trânsito cobrando taxas para que ele não caia no inferno através dos buracos. Falando em Igrejas, a senhora deveria trocar o Mantega pelo Edir Macedo, assim a senhora teria mais dinheiro na balança e mais votos nas urnas.
A gente fala do Brasil, mas aqui é bom demais. Somos a nação em que o bandido mata um trabalhador, um pai de família, seja quem for, e vai para um hotel, tal qual o Agepê: “pra só comer, beber, dormir e não pagar”. Aqui os políticos nos roubam tudo e ainda nos apelidam de pobres a vida inteira. Quem tem dinheiro para pagar fiança não sente o mau-cheiro da cadeia, e traficante passeia em Hilux de advogado.
Mãe, a senhora promete guardar segredo de uma coisa que vou lhe contar? Jura? Pois bem, aqui no Ceará o Governo deixou de lado as cisternas de alvenaria – que custa cada uma cerca de R$ 2.500,00 e dão emprego ao povo do sertão – e optou pelas cisternas de polietileno, que são mais bonitas e custa cada uma mais de R$ 5 mil. Que melhor que nada. Elas são mais bonitas sim, mas na sombra. Quando são expostas ao sol elas murcham, igual a maracujá quando seca e bexiga quando se fura. Parece praga do Egito. Nada dá certo para esse povo do Nordeste.
E ai, a senhora está fazendo as coisas que o Papa a ensinou? Cuidado com essa estória de tirar terço. Se a senhora inventar a moda o pessoal do Congresso aumenta as contas do rosário e vai querer passar o tempo todo em oração. Pois num é que a voz das ruas calou e tudo voltou ao normal. Está todo mundo roubando do mesmo jeito, matando do mesmo jeito, penando do mesmo jeito… Eu sabia que o povo seria vencido pelo cansaço. Ora, se nem os canhões da ditadura intimidaram os políticos do Brasil, dirá o uivo do povo.
O metrô? Está QUASE pronto, o hospital está QUASE funcionando, a UPA está QUASE concluída, os hotéis do shopping estão QUASE prontos, a Vila Olímpica está QUASE com 20 anos de construção… Não é tudo QUASE não mãe. Têm as coisas do JÁ TEVE, que depois eu digo para a senhora.
Vou deixar a senhora trabalhar e vou sentar na calçada para esperar o ladrão, que chega antes do vento da Meruoca. Até a próxima semana, mãe Dilma. Dê um abraço no padrinho Lula e diga a ele para permanecer como está, que ele não se misture com essa gentalha.
Por Silveira Rocha

Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.