Comemora-se hoje 160 anos do historiador cearense Capistrano de Abreu

Leitor compulsivo, mas pouco afeito à escola regular, o jovem Capistrano de Abreu chegou a ser aconselhado a continuar seus estudos em casa, no sítio da família, em Maranguape (município distante 27km da capital cearense), acusado de preguiçoso e vadio durante sua passagem pelo Seminário Episcopal de Fortaleza.

Justamente por não se enquadrar no ensino formal, não foi aceito na Faculdade de Direito e mudou-se para o Rio na década de 1870.
Na capital carioca, contudo, viu modos de dar continuidade ao seu modo particular de pesquisa, tendo passado em um concurso público para bibliotecário da Biblioteca Nacional. Ali sim, rodeado de livros, documentos e manuscritos, poderia dedicar sua vida a descobrir o Brasil ou, pelo menos, a história colonial do País, período que se tornaria seu principal objeto de estudo. Exatamente hoje, dia 23 de outubro, o Ceará comemora 160 anos de um de seus maiores historiadores, cujo legado promoveu um avanço significativo dos modos de se interpretar o Brasil Colonial.
Segundo o livro “Descobrimentos de Capistrano”, do historiador carioca Daniel Mesquita, o pesquisador cearense almejou, a princípio, uma escrita “seguida e completa” da história do Brasil. Queria mesmo era rever a única grande obra que existia à época, História Geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), seu “rival”. Paulista de Sorocaba e homem de confiança de dom Pedro II, Varnhagen escrevera os cinco volumes de seu livro com patrocínio imperial. Com o tempo, no entanto, Capistrano decidiu orientar seus estudos para o período colonial.
Por este motivo, foi criticado por muitos contemporâneos, mas, mesmo assumindo um recorte, inovou nos métodos de pesquisa e de escrita aplicados a ele. Como autodidata, destacou-se pelo rigor que exigia na citação das fontes e dos documentos.

Brasis

Em 1907, aos 54 anos, lançava “Capítulos de História Colonial”, sua obra-prima. No livro, o Brasil identificado por Capistrano era diverso, mestiço. “Esta diversidade aparece em algum momento do seu livro com a expressão ´cinco grupos etnográficos´. Eles são unidos pela língua e pela religião comum. Mas a dúvida de Capistrano era se essas diferentes realidades formavam, de fato, uma nação”, detalha Daniel Mesquita.
Questionar como se forjou o país em que vivia e que país se queria no futuro era demanda comum a muitos escritos e debates desse período. Pesquisadores da chamada Geração de 1870 também se debruçaram sobre essas questões, estimulados pelas transformações cruciais para a história nacional que testemunharam, como a crise do império e o fim da escravidão.
Nesse sentido, pode-se dizer que Capistrano foi fundamental ao pensar a colônia não apenas pela perspectiva da Casa de Bragança, mas sob a ótica de conquistadores, mineiros, pretos forros, índios e jesuítas, que formaram o interior do Brasil, para além do “tênue fio litorâneo”. “Em resumo, pode-se considerar que a busca do historiador era pela pátria interior, no sentido geográfico, e pelo sentimento de nação que ia se formando”, finaliza Mesquita.

Homenagens ao escritor conterrâneo

Até o dia 25 de outubro, a Prefeitura de Maranguape realiza uma série de eventos em homenagem aos 160 anos do historiador maranguapense Capistrano de Abreu.
Hoje, às 18h, a banda municipal se apresenta na praça principal da cidade, que leva o nome do pesquisador. Às 19h, no prédio da Sociedade Artística, o professor de sociologia da Universidade Federal do Ceará, Dr. Eduardo Diatahy B. de Menezes, palestra sobre Capistrano.
Amanhã, às 19h, o professor Francisco José Pinheiro, da Universidade Federal do Ceará, ministra a Conferência História do Brasil Colonial, na Sociedade Artística Maranguapense.
Na sexta-feira, 25, último dia, a programação começa com o Café com História, às 9h: uma conversa sobre Capistrano com a pesquisadora e escritora Berenice Abreu, no Solar Bonifário Câmara.
Às 18h, a autora lança, na Casa de Cultura Capistrano de Abreu, o livro “Jangadeiros: uma corajosa jornada em busca de direitos no Estado Novo”. Haverá ainda apresentação do musical “O mar e os jangadeiros en(canto)”.
Jonas Deison (Sobral Online) com informações de Mayara de Araújo

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