Coluna: Conversando com a mãe Dilma, por Silveira Rocha

Olá
mãe Dilma! Tudo bem?
Pois
é, ainda bem que o Papa já foi embora em paz. Sim, eu também estava morrendo de
medo desses manifestantes errarem um rebolo na senhora a acertarem nele. Ave
mãe seria uma zorra na imprensa internacional para mais de um mês. Se uma
bolinha de papel atirada na cabeça do Serra quase cai um pedaço do mundo, dirá
um ovo na cabeça de um papa.
Será
que a senhora ainda estará
na Presidência quando o Papa voltar aqui em 2017? Então a senhora acredita
mesmo na reeleição, né? Ah, entendi, a senhora está se baseando no que o Papa
falou sobre Lázaro, que estava morto há três dias e ressuscitou. Saiba, porém,
que Lázaro não era político, e que naquele tempo não existia o Ibope.
Ei, estão falando por aqui que o pãozinho vai
aumentar. A senhora vai deixar? Sim, é o aumento do trigo importado. Eu não sei
porque a gente não tem trigo, não tem arroz, não tem feijão, ave, a gente não
tem quase nada. Aliás mãe, neste país só tem muito é ratinho da peste, sim, os
gabiruzinhos de paletó e gravata. Eu me lembro de quando a professora ficava
dizendo que ‘o rato roeu a roupa do rei de Roma’. Se o rato fosse brasileiro
ela diria assim: o rato roubou a roupa e o relógio do rei de Roma.
Mãe, o povo de Sobral está perdendo a paciência com
a violência. Aqui tem tanto ladrão, que a gente quando sai de casa tem logo que
separar o dinheiro das compras e do roubo. Se for viajar pelas CE’s, tem que
levar também a gorjeta dos guardas, senão fica preso na estrada. Ora mãe, aqui
tem mais ronda do que quarteirões, mas não dá jeito. Estou vendo a hora os
bandidos amarrarem um cordãozinho no para-choque dianteiro das viaturas e
saírem puxando-as, assim como a gente fazia com nossos carrinhos, correndo e
gritando: bi-bi-te.
Mãe,
a senhora está abrindo demais a mão. Todo dia são uns bilhões, aqui, outros
bilhões ali, e a gente não vê nada melhorando. É o velho ditado: quem atira com
a pólvora alheia não faz pontaria em cabeça de calango. Tem gente chamando à
senhora de viúva rica do finado Brasil. Claro que é brincadeira, pois o Brasil
sequer deu entrada em hospital do SUS, dirá ter morrido.

que estávamos falando em saúde, a senhora vai acabar cedendo à pressão dos
médicos do Brasil, né? Mãe, não pegue corda não. Nosso país está sem médicos.
Tem gente que leva meses para conseguir uma consulta, anos para conseguir um
exame, e quando sai o laudo a pessoa só sabe o resultado no outro mundo. Nossa
saúde e mais lerda do que a justiça e as filas dos bancos. Sim, traga cubanos,
jamaicanos, africanos, indianos, massapeenses, meruoquenses, seja lá de onde
for, mas traga, pois a dor é grande.
O
Hospital Regional de Sobral é tão grande que a gente passa um dia inteiro
procurando médicos nele e não acha. Consulta por lá virou foi brincadeira de
esconde-esconde, em que a gente não acha o médico e ele não vê a gente. 
Bom
mesmo aqui é que a Prefeitura estendeu a licença-maternidade das servidoras do
município de seis para oito meses. Agora as crianças saem do peito direto para
a escola, e não serão mais chamados de recém-nascidos e sim recém-crescidos.
Bem,
mãe, o papo está muito bom, mas agora eu tenho que desligar, pois meus créditos
estão acabando. A coisa está feia, tão feia que quando se sai da extrema
miséria e chega à linha da pobreza, o metrô esmaga a gente. Falando em metrô, a
senhora sabe quando o de Sobral será inaugurado? Faz tanto tempo que os trens
estão aqui, que eles eram verdes e agora estão ficando amarelos. Será que estão
amadurecendo mãe?
Até
a próxima. Dê um grande abraço no padrinho Lula e diga a ele que eu não vou
mais mandar as avoantes dele, pois o Ibama está muito atento, prendendo os
caçadores e cobrando multas mais caras do que as do TRE. Grande abraço, mãe
Dilma.

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