Criança achada morta no Ceará foi torturada antes de morrer, aponta laudo

Laudo obtido pelo g1 indica fraturas nas costelas, laceração pulmonar e perda de dentes da frente, apontando morte violenta do adolescente

Cinco meses após o corpo do adolescente Thiago Martins, de 12 anos, conhecido como Vaqueirinho de Mauriti, ter sido encontrado na zona rural do município de Mauriti, no interior do Ceará, o laudo cadavérico indica que ele sofreu múltiplos traumas antes da morte, incluindo fraturas nas costelas, laceração pulmonar, colapso do pulmão e perda de dentes da frente, sugerindo morte violenta.

A mãe de Thiago, que recebeu o laudo em meados de maio, afirmou que o filho foi torturado até ser assassinado friamente, reforçando a dor e indignação da família diante do silêncio das autoridades.

”Eu não entendo porque não tenho uma resposta. Eu só quero justiça pelo amor do meu filho. Eu queria que a polícia me dissesse o que sabe, que outras pessoa maiores pudessem entrar nesse caso. Aqui ninguém faz nada”, disse Josiele Martins, mãe de Thiago.

Para os familiares, a falta de informações oficiais é revoltante e sinal de descaso, especialmente por se tratar de uma família de baixa renda. O inquérito policial segue sem conclusão.

Em nota enviada ao g1, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que as investigações tiveram início em 6 de maio de 2025, conduzidas pela Delegacia Municipal de Mauriti, vinculada à Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE). Segundo o órgão, o procedimento está em análise no Poder Judiciário, após pedido de adiamento do prazo feito pela Polícia Civil para dar prosseguimento às diligências e concluir o inquérito. O g1 solicitou entrevista com o delegado André Felipe Torres, responsável, mas não obteve resposta.

O laudo aponta lesões que apontam para agressão violenta antes da morte:

  • Fraturas nas costelas, com laceração pulmonar e colapso do pulmão, compatíveis com causa direta do óbito;
  • Perda de três dentes da frente (11, 12 e 22), com ferimentos nos lábios e mucosa, sugerindo golpe direto na face;
  • Equimose extensa no braço esquerdo, indicando trauma enquanto o adolescente ainda estava vivo;
  • Contusões nos cotovelos e tornozelos, compatíveis com tentativas de defesa ou resistência.

A advogada Lizandra Juca comentou sobre a gravidade das lesões e criticou a falta de informações oficiais. “O exame pericial diferencia com clareza as lesões que ocorreram antes da morte, caracterizadas por equimoses e sinais vitais de reação orgânica, das alterações post mortem decorrentes da ação do meio.”

A mãe do Vaqueirinho falou sobre a paixão do filho pela pega de boi: “Ele começou a gostar de vaquejada ainda pequeno. Tinha um dom para domar cavalos, andava sem sela, e dizia que queria ser vaqueiro. Ele sonhava em ter um parque de vaquejada e ajudar a mim, tirar a mãe do trabalho. Tiraram esse sonho dele”, afirmou a mãe.

Dias após o corpo de Thiago ser encontrado, familiares, amigos e moradores de Mauriti realizaram uma manifestação pelas ruas da cidade, cobrando justiça e celeridade nas investigações. O grupo carregava cartazes e faixas pedindo esclarecimentos sobre a morte do menino, que havia desaparecido três dias antes.

Segundo a família, Thiago havia sido convidado por um vizinho, corredor de vaquejada, para ajudar em um evento no município, mas não retornou para casa.

A Polícia Civil não informou se há suspeitos identificados nem detalhou quais diligências estão sendo tomadas. O g1 também solicitou informações por parte do Ministério Público Estadual, mas ainda não houve retorno.

Fonte: G1 Ce