Dia da Mulher: As mulheres revolucionárias nas lutas do povo

As mulheres revolucionárias nas lutas do povo

Vítimas de opressão dupla na sociedade de classes, imposta pelo sistema a todos os despossuídos e a específica, que as relega a um papel secundário, o de cuidar dos afazeres do lar, ou as submete a dupla jornada, quando desempenham alguma atividade econômica, as mulheres nunca se conformaram com essa situação. 

Muitas, sintetizando a força e o desejo contidos nas mentes e nos corações de todas elas, romperam grilhões e preconceitos e se colocaram na vanguarda das lutas, provando aos homens sua capacidade de ocupar as ruas, liderar greves, passeatas, piquetes, enfrentar patrões, polícia, desbravar florestas, empunhar fuzil. Tornaram-se heroínas do povo brasileiro. 

Em reverência ao seu Dia Internacional, o 8 de março, marcado pelo sacrifício brutal das tecelãs grevistas de Chicago, vamos falar mulheres que, entre tantas, marcaram as lutas do povo brasileiro, em diferentes fases da nossa história. Operárias, camponesas, estudantes, intelectuais, valentes, dispostas, bravas lutadoras.
Ana Lins e Bárbara de Alencar, na Confederação do Equador
Alagoana, uma senhora de engenho adepta da liberdade, Ana Lins se engajou nas lutas republicanas de 1817 e 1824, arregimentando escravos e garantindo a sua libertação. Derrotada a Confederação do Equador, não se entregou, lutando até não dispor mais de nenhuma munição. Bárbara de Alencar, foi a heroína da Confederação no estado do Ceará. Chamada de “infame culpada” pelos monarquistas, redimiu-a o poeta Caetano Ximenes, dizendo: “Bárbara aprofundou seus passos no território livre do seu povo”. E ela, sertaneja, se tornou “Iansã, deusa dos ventos, orixá dos pescadores”.
Nas lutas operárias, o vigor e o perfume de uma Rosa
Numa fase em que as meninas brincam com suas bonecas, Rosa Bittencourt já era operária no Rio de Janeiro. Aos sete anos, selava carretéis, aos dez passou para o setor de fiação. Rosa observava as trabalhadoras adolescentes serem molestadas sexualmente pelos chefes e ficava revoltada. Aos doze anos, chegou o seu dia. Um contramestre tentou aproveitar-se dela e recebeu como resposta uma bordoada com um rolo de ferro que estava ao alcance da mão. Ganhou a admiração das mulheres operárias, que fizeram várias manifestações de protesto contra a sua demissão e a garota voltou a trabalhar na mesma fábrica. Era o ano de 1903. Daí em diante, todas as lutas contaram com a participação da valente obreira: pela jornada de oito horas, pelo almoço, por melhores salários e condições de trabalho, na linha de frente das greves de 1919 e 1920. Demissões e prisões foram uma constante, mas Rosa nunca recuou. Quando nenhuma fábrica a aceitou mais, passou a viver de biscates e distribuir boletins de porta em porta, conversando, conscientizando os trabalhadores, especialmente as mulheres. Palavras dessa lutadora: “Cada rua é um jardim, cada porta um canteiro, cada material que eu entrego representa as flores que colho para enfeitar o meu peito cardíaco”.
As mulheres revolucionárias nas lutas do povoAbaixo a ditadura do Estado Novo. Viva o Socialismo!
Laura Brandão era participante ativa da Aliança Nacional Libertadora. Poetisa, preferia estar com as setenta operárias que integravam a Ala Feminina da ANL no Rio de Janeiro. Com suas poesias revolucionárias, animava e comovia os trabalhadores na Praça Mauá e no Cais do Porto. A ditadura do Estado Novo (Vargas) expulsou-a do Brasil. Laura foi para Moscou, onde deixou suas últimas poesias e morreu de armas na mão defendendo a capital do socialismo da sanha nazista dos invasores alemães na Segunda Guerra Mundial.

Nas Ligas Camponesas
Muitas mulheres integraram e tiveram importantes funções nas Ligas Camponesas.13,8% dos líderes eram mulheres, entre as quais Maria Celeste, Maria Aquino e as duas que citamos nessa homenagem.

Viúva de João Pedro Teixeira, dirigente da famosa Liga de Sapé (PB), assassinado a mando dos latifundiários em 1962, Elizabete Teixeira ficou com onze filhos para criar, mas não se acomodou. Assumiu o posto do companheiro morto e percorreu o Brasil inteiro, divulgando a proposta das Ligas, defendendo a Reforma Agrária, denunciando a impunidade dos assassinos. Com o golpe militar de 1964, Elizabete passou a viver na clandestinidade, até a anistia decretada em 1979.
Informações: Movimento de Mulheres Olga Benário

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