Dia Internacional dos Desaparecidos: Ceará tem leve alta de registros em 2021
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que 1.722 registros de desaparecimento de pessoas foram computados na Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) no ano passado. Em comparação a 2020, foi registrada uma alta de 8,4%. Na época, 1.588 casos foram informados.
Nesta terça-feira, 30 de agosto, é celebrado o Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas. No Ceará, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve 1.722 registros de desaparecimento de pessoas na Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) em 2021. Em comparação a 2020, foi registrada uma alta de 8,4%. Na época, 1.588 casos foram informados na pasta. Não há informações no documento de pessoas localizadas nesses períodos no Estado.
A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011, e busca realçar a importância de unir esforços para atender às necessidades de familiares de pessoas desaparecidas, além de fortalecer a esperança de encontrar aqueles que dividiam o convívio cotidiano.
Milhares de pessoas desaparecem no mundo todos os anos, sendo as circunstâncias inúmeras, incluindo conflitos armados, violência, desastres naturais e a rota migratória, por exemplo.
Em Fortaleza, um dos casos de desaparecimento aconteceu com o irmão da professora Liliana França e da artesã Lucila França. O cearense de Leonardo França desapareceu em 2013 após acompanhar um vizinho caminhoneiro em Minas Gerais. Na época, ele tinha 42 anos.
“Ele viajou com um caminhoneiro que tinha como destino São Paulo, mas ele desapareceu na cidade de Divisa Alegre, Minas Gerais. A gente fez o Boletim de Ocorrência e buscamos os canais de comunicação para ajudar nas buscas, isso desde 2013 até chegar à Cruz Vermelha”, relata Lucila, que ainda destaca que, apesar dos anos, ela e a família ainda mantém viva a esperança de encontrar o irmão.
O POVO solicitou à SSPDS levantamento de pessoas desparecidas de 2019 até 2022 no Ceará, bem como quantidade de pessoas encontradas no mesmo período, mas não houve resposta até o fechamento. A matéria será atualizada quando a demanda for respondida.
Apoio aos familiares
Para auxiliar familiares que estão passando por esse processo de buscas de pessoas desaparecidas, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) realiza um trabalho de apoio a partir de um programa de acompanhamento.
De acordo com o assessor do CICV, Daniel Mamede, a iniciativa busca atender às famílias.
“O primeiro é apoiar nesse diagnóstico da compreensão da realidade, o segundo seria identificar as pessoas que são afetadas por esse fenômeno e tentar encaminhar essas necessidades às autoridades locais. Tentar fazer essa ponte para que as autoridades possam responder a essas necessidades”, explica Daniel.
Esse trabalho com os familiares, conforme a Cruz Vermelha, acontece por meio da participação das equipes técnicas do CICV em grupos de trabalho, capacitações, recomendações técnicas e acompanhamento de ações realizadas por órgãos públicos, organizações da sociedade civil e grupos de famílias de pessoas desaparecidas.
Nos encontros, Daniel comenta que, além das questões relacionadas à busca, ao reconhecimento, tratamento digno e igualitário e à justiça, essas necessidades incluem questões de saúde física e mental e aspectos jurídicos, administrativos e econômicos dos familiares.
De acordo com a professora Liliana França, ela e a família estão bem amparadas.
“Todas as autoridades sabem da nossa realidade. O grupo [Cruz Vermelha] marca as reuniões, chama as autoridades, a gente debate. Se a gente tem alguma dúvida, a gente conversa e bate de frente para saber como vai ser se encontrar ele, por exemplo, se ele estiver em outro estado ou país, a gente vai ser orientado”, comenta.
O trabalho com pessoas que estão em buscas de entes queridos acontece a partir de uma busca ativa dos familiares pelo Comitê da Cruz Vermelha, seja por meio da mídia ou pelas redes sociais.
“Às vezes, os casos são encaminhados também pelas instituições que a gente tem parceria. O nosso interesse é escutar essas pessoas e apoiá-las na organização delas”, complementa Mamede.
Na América Latina, o CICV presta apoio aos familiares de pessoas desaparecidas no Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Peru e Venezuela.
O CICV reconhece que, assim como as pessoas que desaparecem, os familiares delas também são fortemente afetados pelo desaparecimento e precisam que as necessidades específicas sejam atendidas.
FONTE: OPOVO