Embriagado e em alta velocidade: Filho de prefeito de Aurora é indiciado por atropelamento de idoso
Marcone Tavares de Luna Filho responderá por homicídio doloso qualificado por ter dirigido embriagado e em alta velocidade e feito manobras de risco
Marcone Tavares de Luna Filho, de 18 anos, foi indiciado pelo atropelamento do idoso Francisco Careiro de Araújo, 74, conhecido como “Chico de Matias”. O rapaz, que é filho do prefeito de Aurora, Marcone Tavares de Luna, responderá por homicídio doloso qualificado por ter dirigido embriagado, em alta velocidade e feito manobras de risco.
O crime foi cometido na manhã de 4 de maio, um domingo. Naquele dia, Francisco fazia sua caminhada matinal de rotina do outro lado da linha de bordo obrigatória da rodovia estadual CE-153 quando foi atropelado pelas costas por um veículo que, segundo testemunhas, trafegava em “zigue-zague” pela pista.
“Falaram que ele [a vítima] foi arremessado mais de 100 metros”, contou ao Diário do Nordeste, à época, o filho de Francisco, o fotógrafo Jucivan Moreira, 27. O impacto da colisão foi tão forte que o corpo do homem ficou semi decapitado.
Essa violência foi comprovada pelo laudo cadavérico, que apontou quadro “compatível com semi decapitação e atropelamento ou projeção com arrasto por mecanismo de trauma violento e brutal, com alta energia cinética envolvida”. As informações constam no inquérito sobre o caso, acessado pelo Sistema Verdes Mares nesta sexta-feira (13).
Em nota, a defesa do indiciado disse que ainda não teve acesso aos autos nem ao conteúdo da denúncia, mas que adotará “medidas cabíveis” assim que tiver “ciência formal”.
Duas testemunhas também foram indiciadas
Conforme o inquérito, a polícia enfrentou “diversas dificuldades” na oitiva das testemunhas devido ao fato de o indiciado ser filho do prefeito e por alguns dos ouvidos em defesa dele ocuparem cargos e funções no Executivo municipal, “demonstrando nítida ausência de imparcialidade ou intenção de esclarecer os fatos”.
Duas das testemunhas interrogadas pela Polícia, inclusive, também foram indiciadas: Rafael Batista Pinheiro, conhecido como “Galo Cego”, terá de responder por falso testemunho, e o secretário municipal de Juventude e Esporte, Sílvio Bezerra Benício, terá de se defender por fraude processual, por ter modificado o cenário do crime.
O que disseram as testemunhas e por que foram indiciadas?
Rafael depôs que acordou às 5h20 da manhã daquele domingo para participar de um “Bolão de Vaquejada” no Distrito de Ingazeiras. Ele disse que, enquanto caminhava, conseguiu uma carona com o filho do prefeito, e que não percebeu qualquer sintoma de embriaguez nele e não se deparou com garrafas ou latas de bebida no interior do carro.
O depoimento dele, no entanto, não se sustentou. Nas investigações, a polícia constatou que Rafael e Marcone Filho estavam juntos na Feira do Gado e que a dupla deixou o local em um carro dirigido pelo filho do prefeito, em alta velocidade e fazendo “zigue-zague”.
Outra testemunha apontou que, após o atropelamento do idoso, Rafael teria descido do carro e gritado: “Foi o filho do Marcone. Eu falei a ele para a gente não sair mais”.
O secretário Sílvio Benício, por sua vez, foi flagrado por diferentes testemunhas mexendo no interior do veículo envolvido no atropelamento em busca de “objetos desconhecidos”. Questionado pela polícia sobre isso, o gestor afirmou que agiu “movido por curiosidade”, mas que não retirou nada do lugar.
Homicídio doloso
Marcone Filho foi indiciado por homicídio doloso, que significa que ele agiu com intenção de tirar a vida de outra pessoa. Isso porque os investigadores constataram que o rapaz ingeriu bebida alcoólica em praça pública e, depois, na casa de outro amigo. Diferentes testemunhas asseguraram que ele estava visivelmente embriagado.
Além disso, a perícia averiguou que o motorista estava em alta velocidade e que fez manobras arriscadas na pista, o que, somado à embriaguez, “demonstra que o investigado assumiu o risco de produzir o evento morte”.
Outro fato que pesou contra o filho do prefeito de Aurora é que ele fugiu do local sem prestar socorro à vítima, no intuito de evitar uma prisão em flagrante.
Quando o Diário do Nordeste publicou pela primeira vez o caso, a alegação da defesa era de que a retirada teria se dado para que Marcone Filho fosse socorrido ao hospital. Contudo, ele teria dado entrada no Hospital de Brejo Santo apenas às 13h daquele mesmo dia.