Equipamentos de torres são furtados e abastecem empresas no Ceará ligadas a facções

Uma única empresa registrou furtos de fontes retificadoras em 13 municípios e cinco bairros de Fortaleza. Equipamentos seriam revendidos para empresas clandestinas

 

Uma ação da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no último dia 22 de junho, prendeu em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, um técnico de uma empresa que presta serviço a uma operadora de telefonia. No carro em que ele trafegava, os PMs encontraram uma fonte retificadora furtada de uma antena de telecomunicações localizada em Paracuru, também na RMF. Não se tratou, porém, de um caso isolado. O POVO teve acesso a um Boletim de Ocorrência (BO) em que o supervisor de uma empresa informou que, somente aquela companhia, já havia registrado cerca de 20 BOs relatando furtos de fontes. O prejuízo, conforme estimou, foi de mais de R$ 200 mil.
Os crimes foram registrados em municípios como Acarape, Barreiras, Beberibe, Cascavel, Caucaia, Choró, Guaiúba, Itapiúna, Maranguape, Mulungu, Pacajus e Pindoretama. Em Fortaleza, furtos foram registrados nos bairros Bom Jardim, Granja Portugal, Jóquei Clube, Parangaba e Passaré.

Equipamento essencial para o fornecimento de internet, uma única fonte retificadora subtraída foi avaliada em torno de R$ 15 mil, o que torna o furto para revenda uma atividade lucrativa. As principais compradoras são empresas clandestinas de bairros da periferia ou do Interior, informou um PM, de identidade preservada.

O militar contextualiza que, em comunidades dominadas por facções, criminosos têm obrigado moradores a contratarem serviços de internet apenas de empresas “autorizadas” por essas organizações.

O POVO   já mostrou que as facções fizeram da exploração dos serviços de internet uma fonte de renda, seja com a criação de empresas diretamente ligadas a esses grupos, seja pelo estabelecimento de “pedágios” a companhias interessadas em atuar em determinadas regiões. Essa realidade se faz presente, por exemplo, em comunidades como o residencial Cidade Jardim II, localizado no bairro José Walter, e no bairro Pirambu, mas outras localidades sofrem também com essa prática. Conforme a fonte, as facções têm aliciado funcionários de terceirizadas para cometerem os crimes. No caso da prisão em 22 de junho, conforme Auto de Prisão em Flagrante (APF), o técnico estava de folga e, mesmo assim, foi até a torre furtar a fonte.

O POVO  apurou que ele estava fardado e falsificou o crachá para ter acesso à antena. Nessa quarta-feira, 10, o Ministério Público Estadual (MPCE) decidiu que iria propor ao suspeito um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), pois o crime foi cometido sem violência ou grave ameaça e tem pena inferior a quatro anos. Por esse motivo,  OPOVO decidiu não divulgar o nome do suspeito. Em entrevista, a O POVO  Aluizio Weber, coordenador de infraestrutura da Conexis (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel, Celular e Pessoal), relatou que o furto de equipamentos de empresas de telecomunicação é um problema nacional. Somente em relação a cabos de telecom. O  Ceará teve, em 2023, 156.992 metros furtados ou roubados. O Estado foi o sexto do País nesse tipo de crime no segundo semestre de 2023. Para evitar essa situação, Weber conta que as empresas têm mantido nos estados contatos diretos com as secretarias de segurança.

Weber conta ainda que, apesar de, muitas vezes, pequenos assaltantes estarem na ponta praticando esses crimes, o comércio de equipamentos furtados alimenta uma cadeia bastante lucrativa.

FONTE: O POVO