Abordo de um veleiro, com o mar a perder de vista, a professora de redação Sandra Cândido — Tia Fofinha que é da cidade de Sobral, como se intitula — passou a manhã de ontem dando dicas a estudantes de escolas públicas cearenses sobre a melhor forma de produzir um texto para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A aula ao ar livre foi organizada pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) para dar início ao programa Enem Não Tira Férias deste ano.
“Dei uma aula-lazer”, definiu Tia Fofinha. O programa estadual consiste em três aulões semanais em escolas escolhidas pela Seduc. “Vi, no barco, muito aluno capaz que, se a gente direcionar, consegue os mil pontos — nota máxima da redação”, observou. Entre as orientações para a produção textual, ela destacou: atenção à legibilidade da letra e uso de citações (literárias, cinematográficas, filosóficas etc).
Para a abertura do programa, vieram cerca de 140 estudantes do ensino médio a Fortaleza. Alguns, de avião; outros, de carro, ônibus.
Alguns, conhecendo pela primeira vez a Capital; outros, revisitando espaços que já haviam explorado antes. E houve ainda aqueles que até moram na Cidade, mas nunca tinham aprendido matérias escolares em alto-mar.
Por parte dos professores e coordenadores do colégio onde estuda, “não falta incentivo” para a participação e o êxito no Enem, admitiu o estudante Vitor Emanuel, 17, que cursa o terceiro ano na Escola de Ensino Fundamental e Médio Mário Schenberg, na Vila Manoel Sátiro.
Cleysla Oliveira, 17, aluna da escola Estado do Amazonas, concorda com Vitor, mas pontua que os estudantes precisam, também, de estrutura melhor para estudar. “Na minha escola não tem pincel, os professores têm que trazer de casa. A gente faz prova no papel do caderno”, revelou. “Numa aula de química a gente só tem aula teórica porque não tem estrutura pra prática”, ressaltou Vitor.
Embora não tenha sido a primeira vez em Fortaleza, Ester dos Santos Dimas, 17, vinda de Jucás, interior do Ceará, estava nervosa por nunca ter passeado de veleiro. Mas, a ansiedade maior era para aprender com a Tia Fofinha, pois tem dificuldade em português. “O local (o mar) favorece muito a aula porque sai da sala”, comemorou.
Para viabilizar as aulas do Enem Não Tira Férias, professores, coordenadores e diretores escolares abrem mão das próprias férias, de acordo com o secretário estadual da Educação, Idilvan Alencar. O gestor explica a relevância do momento e o apelo ao pique de estudos, destacando que a preparação para o exame é decisiva na vida dos jovens.
“As aulas têm formato mais agradável. O aluno vai de chinelo, calção.
Começa um pouco mais tarde”, ameniza Idilvan. Ao todo, segundo o secretário, 300 escolas-polo do Estado devem oferecer, de terça a quinta-feira, até o próximo dia 20, conteúdos das áreas do conhecimento exigidas pelo Enem.
“A gente também atrela o Enem Não Tira Férias ao AoGosto do Aluno — outro programa estadual de incentivo para o Enem. As escolas com mais participação ganham passeio pra parque aquático, jogo no Castelão…”, cita o secretário da Educação.
