Expectativa para retomada dos investimentos cresce após reforma

A aprovação da reforma da Previdência tem potencial para destravar R$ 1,4 trilhão em investimentos no País, segundo cálculo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Embora não deva ser suficiente para alavancar o crescimento econômico brasileiro ainda neste ano, o setor produtivo – animado com o resultado – prevê que os empresários retomem em breve a aplicação de recursos em seus negócios.

“Vamos ter ânimo novamente para colocar os nossos projetos nas mesas”, celebra o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart. “Com os juros caindo, quem tem recurso vai tirar liquidez e investir em seu negócio. Agora não é mais vantagem ter dinheiro guardado. Todo mundo vai voltar seus recursos à atividade industrial”.

Segundo Studart, porém, o resultado não será suficiente para alavancar o crescimento econômico ainda neste ano. “Nós vamos nos preparar para 2020. O ano de 2019 está relativamente perdido, mas o próximo está chegando com um cenário totalmente diferente, devemos crescer 2,5% a 3,5%. Mas a simples aprovação da reforma já nos leva a um novo momento”, pontua.

Na avaliação de Heitor Studart, presidente do conselho temático de Infraestrutura da Fiec, a sinalização dada pelo Congresso em favor da reforma da Previdência abre espaço para as demais reformas. “O que acho mais significativo é a mensagem aos investidores e à sociedade em geral que essa aprovação proporciona, abrindo espaço para reformas complementares, como a tributária”, aponta.

Ele destaca que a reforma dará maior segurança jurídica, econômica e maior previsibilidade para atrair investimentos externos, principalmente na área de infraestrutura. “A reforma dá as condições fiscais para que o País possa receber esses investimentos, pois esse era um dos fatores que estavam impedindo a chegada desse capital de que nós precisamos”.

Ontem (11), ao destacar o avanço da reforma da Previdência na Câmara, uma reportagem publicada pela revista Forbes afirmava que, para os investidores de Wall Street, o Brasil “está de volta aos negócios”. A revista também destacou que as recentes altas do Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, “estão batendo todos os mercados emergentes”.

Mercado

Segundo o consultor Thomas Bianchi, sócio da Conceito Investimentos, conforme a tramitação da reforma foi avançando no Congresso, o mercado de capitais foi antecipando sua aprovação, o que levou o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, a atingir a máxima histórica e o dólar a chegar ao menor patamar desde fevereiro, ainda na quarta-feira, antes da aprovação da reforma em primeiro turno na Câmara.

“O mercado já tinha essa expectativa e acabou antecipando o resultado. Agora, é natural que haja uma correção”, diz Bianchi. Após cinco pregões de alta, ontem o Ibovespa recuou 0,63%, aos 105.146,44 pontos, com volume negociado de R$ 16,79 bilhões. Após a aprovação do texto-base da reforma, investidores adotaram uma postura cautelosa e optaram por embolsar ganhos diante do adiamento para apreciação dos destaques. Já o dólar, após um dia volátil, fechou em baixa de 0,15%, a R$ 3,7510.

“Em relação aos próximos passos, é aguardar para ver como vai ser a tramitação no Senado”, aponta o consultor. Ele ressalta que, apesar da necessidade da Previdência para que o País tenha equilíbrio fiscal, a reforma não é suficiente para estimular a economia. “A Previdência é a reforma mais impactante, mas ela, por si só, não vai resolver os problemas do País. O (ministro da Economia, Paulo) Guedes já disse que depois que a Previdência passar, o Governo irá apresentar outras medidas. De todo modo, no curto prazo, a aprovação com uma quantidade expressiva de votos cria um otimismo no mercado”.

Mudanças previstas

Para Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), o texto aprovado trouxe mudanças positivas para os trabalhadores em relação à proposta original encaminhada pelo Governo. Mas ela pondera que ainda há questões a serem aperfeiçoadas tanto pela Câmara como pelo Senado. “A proposta melhorou muito o texto original, como com a retirada da capitalização, mas ainda tem muita coisa que precisa ser ajustada”.

Na avaliação da advogada, muitas mudanças prejudicaram segmentos da população brasileira. “O que a gente clama é que sejam feitas mais alterações para que não haja desmontes nos direitos adquiridos, pois ainda há problemas com as aposentadorias dos professores e há a possibilidade de anular aposentadorias já homologadas, o que pode gerar judicialização”. 

Segundo Bramante, há uma forte tendência de que estados e municípios, que foram retirados da proposta original, sejam incluídos na reforma durante a tramitação no Senado. “Há a possibilidade de voltar também a capitalização, mas de qualquer forma o texto terá de voltar à Câmara”, diz.

Com informações O Povo