Fortaleza tem quase 1.200 pontos de lixo e população pede atenção à limpeza: ‘a gente paga por fora’
Em meio à cobrança da Taxa do Lixo na cidade, em vigor desde 2023 e que arrecadou R$ 70 milhões, moradores reclamam de sujeiras nas ruas
Imagine precisar trocar de calçada devido ao acúmulo de lixo no caminho que você iria percorrer. Essa foi uma das cenas flagradas pelo Diário do Nordeste no bairro Papicu, na manhã da última quarta-feira (5), repetindo o cenário de diversos locais de Fortaleza com grande despejo de plásticos, restos de alimentos, entulhos e até sofás. Ao todo, a própria Prefeitura contabiliza quase 1.200 pontos distribuídos nas 12 regionais.
O levantamento foi enviado pela Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) à reportagem. Os dados apontam que a recordista é a Regional 1, com 180 pontos. A área abrange bairros como Barra do Ceará, Vila Velha e Cristo Redentor. Em seguida, vem a Regional 11, correspondente a territórios como Genibaú, Pici e Conjunto Ceará, com 169 locais. Em terceiro, aparece a Regional 6 – que abarca a Grande Messejana -, com 160 pontos de lixo.
Veja a quantidade por área:
Regional 1: 180
Regional 2: 80
Regional 3: 99
Regional 4: 83
Regional 5: 75
Regional 6: 160
Regional 7: 62
Regional 8: 95
Regional 9: 59
Regional 10: 93
Regional 11: 169
Regional 12: 43
TAXA DO LIXO EM FORTALEZA
No ano passado, a Prefeitura de Fortaleza recolheu R$ 70 milhões de taxa do lixo. No entanto, a Taxa de Resíduos Sólidos só pode financiar a coleta domiciliar regular, aquela que passa na casa da população, e a destinação adequada desse resíduo na central de tratamento de resíduos no Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia (Asmoc). Ou seja, não é usada para limpar os pontos de lixo e para a coleta em pontos de descarte irregular.
Em meio à cobrança da Taxa do Lixo na cidade, em vigor desde 2023, a população pede a boa prestação do serviço de limpeza urbana. De acordo com a SCSP, todo o recurso oriundo do tributo é aplicado “no pagamento da manutenção, ampliação e aprimoramento dos serviços de coleta, manejo e destinação final de resíduos sólidos”, executados por meio do contrato de concessão da Ecofor com a Prefeitura de Fortaleza.
Para verificar o andamento da limpeza, o Diário do Nordeste percorreu diversos bairros. Na Rua Capitão Aragão, no Alto da Balança, havia sacos plásticos depositados principalmente no canteiro central. Enquanto a reportagem esteve no local, uma catadora separava os materiais que a interessavam. Ali próximo, às margens do Canal do Lagamar, outro ponto crônico ficava a poucos metros de uma parada de ônibus municipal.
Montes de resíduos, plantas e entulho também barravam uma calçada na Rua Tenente Wilson, na Aerolândia. A dona de casa Sandra Silva afirma que a situação está assim há semanas, sem movimentação para resolver nem do proprietário nem da coleta municipal, cujos dias de coleta ela sabe decorados: “terça, quarta e quinta”.
PROBLEMA CRÔNICO
A 6 km dali, na Rua André Dall’olio, no bairro Papicu, um contêiner não foi suficiente e a esquina está praticamente tomada pelo lixo, que inclui pedaços de madeira, janelas, caixas de papelão e de ovos. Um morador que vive no local há mais de 40 anos, e pediu para não ser identificado, relatou que o ponto traz transtornos como ratos, muriçocas e alagamentos.
“O entulho entope as galerias, a água fica aqui (no peito). Já tá com um tempinho que a limpeza não vem, fica lotado aqui. O pessoal tem que fazer uma cotinha pros caras tirarem, a gente paga por fora”, conta.
Ali perto, ao lado de um supermercado, a Rua Valdetário Mota também registrou acúmulo de sacos rasgados, embalagens de marmitas e copos plásticos. Pedestres que se deslocavam pela rua precisaram desviar do monturo e dividir o asfalto com os carros.
Ainda na mesma via, mais um grande ponto crônico pode ser visto no cruzamento com a Rua Pereira de Miranda. A autônoma Juliane Freitas, que vende lanches na outra esquina, conta que o despejo no local existe há anos – imagens da plataforma Google Maps comprovam isso, pelo menos, desde 2012 – e é bastante frequente.
“A caçamba recolhe e basta virar a rua, o pessoal já vem jogar de novo”, lamenta. Enquanto a reportagem esteve no local, pode flagrar um homem depositando restos de uma obra na calçada.
“Antigamente, tinha mais lixo fora do que dentro do contêiner. A Prefeitura tirou pra conscientizar o povo a não colocar lixo na frente de casa, mas ficou foi pior. Às vezes, parece que nem limparam. É um trabalho de enxugar gelo”, afirma Juliane.
O cenário não é muito diferente na Av. Duque de Caxias, em trecho do bairro Jacarecanga. Às margens da via, um ponto de lixo exala bastante mau cheiro. Restos de coco, sabugos de milho, embalagens e até fezes foram detectadas no local. Marcas escuras no chão também indicam que a queima do material já ocorreu em outras ocasiões.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Segundo a SCSP, a coleta de resíduos sólidos pela cidade ocorre diariamente. No Centro e Beira Mar, devido ao intenso fluxo diário dessas regiões, é feita diariamente; nos demais bairros, a domiciliar é realizada três vezes na semana, sempre às segundas, quartas e sextas ou terças, quintas e sábados, nos períodos diurno e noturno.
221 MIL
toneladas de resíduos pela coleta domiciliar foram coletadas de janeiro a abril deste ano.
Já a Coleta Especial Urbana diária recolhe materiais de vias públicas, canteiros centrais e terrenos e é programada de acordo com os pontos de lixo mapeados a partir de históricos. Só neste ano, a Prefeitura retirou 227 mil toneladas de resíduos indevidamente descartados. Em paralelo, a Operação Tira-Treco auxilia a população a descartar resíduos grandes, como móveis e eletrodomésticos sem uso, pneus, restos de madeiras e ferragens, “buscando evitar que esses materiais sejam indevidamente despejados e contribuam para a formação de pontos de lixo”.
Nos eixos de educação, fiscalização e limpeza urbana, salienta a SCSP, há mais de 10 mil agentes em campo promovendo ações de engajamento e conscientização sobre o descarte correto dos resíduos nos bairros, com atendimento porta a porta, em eventos esportivos e espaços públicos.
A fiscalização também conta com um sistema de videomonitoramento com tecnologia de identificação automática de descarte inadequado de resíduos em áreas públicas. A Pasta lembra que, segundo o Código da Cidade, depositar materiais diversos em calçadas, vias públicas, praças, jardins ou terrenos é infração grave. Em casos de flagrante, o responsável é autuado e a multa pode variar de R$202,50 a R$2.700 para pessoa física e chegar a R$32.400 para pessoa jurídica.
FONTE:DIÁRIO DO NORDESTE