Ceará tem o gás de cozinha mais caro do Nordeste, segundo levantamento semanal de preços da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) foi comercializado no Estado com preço médio de R$ 73,48, entre os últimos dias 13 e 19. O valor deve subir ainda mais com reajuste anunciado pela Petrobras para as refinarias.
Em vigor desde ontem, a alta de 5,3% deve impactar toda cadeia do gás. Desde as refinarias, passando pelas revendedoras, até o consumidor final. Na última semana, os consumidores cearenses puderam encontrar valores que variavam entre R$ 67 e R$ 82, diferença de pouco mais de 22% ou R$ 15.
Além de ter o botijão mais caro comercializado no Nordeste, o Ceará também ficou como o 8º GLP com maior preço do Brasil. O valor médio é maior do que outros estados com custos de vida maiores e ficou atrás de estados do Norte e Centro Oeste. Segundo o consultor da área de Petróleo e Gás, Bruno Iughetti, a alta anunciada para as refinarias deve chegar ao consumidor de forma mais branda, com alta na casa dos 3%, que deve acontecer até a próxima semana.
Para Iughetti, com a retirada dos subsídios em cima do preço do GLP, agora o valor cobrado ao consumidor é mais “real”, mas fatores locais e de mercado contribuem para esse alto valor no Ceará. Ele cita o problema logístico do Estado com a baixa capacidade de tancagem, que acaba encarecendo o produto que chega ao Estado, além do monopólio da Petrobras nesse mercado.
“É um monopólio de fato e o que tentamos fazer com que seja mais agilizado é o processo concorrencial. Enquanto a Petrobras estiver somente ela no domínio do mercado tendemos a ver poucos progressos. A busca do Governo pela abertura de mercado e o interesse de players nessa entrada, aumentará a concorrência e fará com que os preços caiam e passem a sofrer com reajustes muito mais espaçados”, analisa.
Item considerado de primeira necessidade na carta de consumo dos brasileiros, o aumento do preço do gás de cozinha deve prejudicar principalmente os mais pobres. Autora do estudo Inflação por faixa de renda, a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Maria Andreia Parente Lameiras, comenta que a inflação acumulada para os mais pobres tende a ser até maior do que o índice médio, que está em queda no País.
Ela explica que isso acontece porque nas famílias de menor renda, o orçamento é empenhado em gastos básicos com alimentação, energia elétrica, transporte público e gás de cozinha.
“Quando acontece o aumento do gás de cozinha, bem acima do aumento dos demais preços, faz com que a inflação dessas camadas mais pobres da população fazem com que o índice fique até mais alto do que o índice oficial, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, ressalta.
Esse aumento, destaca, gera uma corrosão do salário muito maior, fazendo com que sobre menos dinheiro para essa população gastar em outras necessidades e bens. Para a pesquisadora do Ipea, quando o assunto é reajuste do GLP, o consumidor não tem muitas alternativas e acaba tendo que adaptar seus gastos. “(Por ser um produto de primeira necessidade) não há como trocar. Esse consumidor vai substituir o gás de cozinha pelo quê? Vai voltar a cozinha à lenha?”.
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Variações do GLP
O preço do gás de cozinha (GLP) vem variando desde o início do ano. No início de fevereiro, O POVO realizou pesquisa nas revendas, que tinham valores até R$ 80. Esse patamar foi superado nas últimas semanas, quando chegou a R$ 85 entre o fim de setembro e início de outubro.
PLANO DO GOVERNO
O Governo Federal planeja implementar iniciativa que, segundo cálculos da equipe econômica, tem potencial de reduzir em até 40% o valor do gás de cozinha. Produzido pela Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) da pasta, o documento defende o fim da política que concentrou o mercado de GLP nos botijões de até 13 quilogramas (kg).
GASOLINA
Em meio a altas, um alívio para o bolso do consumidor foi a redução do preço médio da gasolina no Ceará. Valor caiu de R$ 4,646 (entre 6/10 e 12/10) para R$ 4,598 (entre 13/10 e 19/10). O preço ainda está acima do patamar
de R$ 4,566 comercializado entre 8/9 e 14/9.
Fortaleza
Ainda segundo a pesquisa da ANP, o preço cobrado por gás de cozinha na Capital chega a ser até R$ 2 mais alto em comparação com a média estadual. os valores variam entre R$ 72 e R$ 82, ou seja, 23% entre as revendas.