Haddad e Bolsonaro, os dois maiores alvos no quarto debate presidencial

Esta é a segunda vez que a CNBB promove um encontro entre candidatos à Presidência
 
O primeiro debate presidencial desta eleição com a presença de um candidato petista expôs o poder de atração do polo que se estabeleceu no topo de disputa. Fernando Haddad (PT) dividiu com o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que segue hospitalizado após atentado a faca no início do mês, o papel de alvo no quarto embate entre os candidatos nesta campanha, promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela TV Aparecida.“Todos os partidos deveriam fazer uma autocrítica, mas o PT lança candidato em porta de penitenciária”, disse o ex-governador Geraldo Alckmin (PSBD) em um dos ataques ao substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial.

No encontro em que a Igreja Católica e suas TVs mostraram mais uma vez sua capacidade de influência, Haddad também foi alvo de Henrique Meirelles (MDB), que o associou ao Governo Dilma Rousseff; de Ciro Gomes (PDT), que o cobrou, no que chamou de “uma pinicadinha”, pelo fato de o PT não ter feito, durante os 14 anos em que esteve no poder, reformas tributárias para reduzir a desigualdade no país; e do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que se destacou nas redes sociais ao chamar o petista de “porta-voz da tragédia” e “representante do caos”, entre outros desqualificativos.
Apesar das alfinetadas, o modelo do debate não favoreceu os confrontos diretos entre os candidatos – eles não puderam escolher a quem perguntar, já que todas as interações foram definidas por meio de sorteios. A sorte permitiu que os embates mais aguardados, entre Alckmin e Haddad e entre Ciro e o petista, ocorressem apenas uma vez. O resto das perguntas foi feito por jornalistas das emissoras ligadas à igrejas ou por bispos, o que atribui ao debate uma maior gama de assuntos, mas impediu que os candidatos desenvolvessem com mais fôlego suas propostas. Talvez por conta do modelo, o debate não fluiu como os três primeiros, e boa parte das intervenções dos presidenciáveis soou hermética.
Logo em sua primeira intervenção, Haddad fez questão de mencionar o ex-presidente Lula, preso desde abril e candidato do PT à Presidência até ser substituído neste mês pelo ex-prefeito de São Paulo. O petista usou o seu tempo para reivindicar o legado do ex-presidente e para colar Alckmin e seu PSDB ao Governo de Michel Temer. Em resposta a dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ele prometeu fortalecer todas as instituições que combatem a corrupção. “Para isso precisamos ter uma controladoria, uma Polícia Federal e uma Justiça forte e apartidária”, disse, afirmando que o PT fortaleceu essas instituições enquanto esteve no Governo.

Foi ao tentar associar Alckmin a Temer, entretanto, que Haddad abriu caminho para os ataques do adversário. O petista questionou o tucano sobre o teto de gastos públicos estabelecido pelo atual Governo e a reforma trabalhista, que ele prometeu revogar. “Estamos com 13 milhões de desempregados, herança da Dilma e do PT”, respondeu o tucano. “Não precisaria do teto de gastos se não fosse o Governo do PT”, emendou. Alckmin disse que a situação do Brasil é delicada e, sempre tentando se descolar de Temer, prometeu reformas já no início do ano para a economia voltar a crescer.
O maior incisivo contra Haddad durante o debate foi Alvaro Dias, que usou todo o tempo de embate entre os dois para fazer ataques ao PT, o partido da “crença na ignorância”, o “arauto da intolerância”, que “distribuiu a pobreza para todos e a riqueza para alguns”. A estratégia lhe rendeu ser um dos a

Bolsonaro

Também não faltaram críticas a Jair Bolsonaro, mas elas partiram de Meirelles, Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede). Sempre tomando o cuidado de não soarem desrespeitosos ao mirar contra um candidato hospitalizado, os três se revezaram em críticas ao comportamento e às propostas do capitão reformado do Exército. “Não é com violência que se combate a violência, distribuindo armas à população”, disse Boulos ao abordar a questão em debate com Marina. “Vamos enfrentar o problema com prevenção. Não queremos que o jovem tenha a primeira arma, mas o primeiro emprego. Não podemos usar como exemplo quem criou a polícia que mais mata e a polícia que mais morre.”
Meirelles preferiu criticar os planos econômicos da candidatura Bolsonaro, mirando contra seu fiador econômico, Paulo Guedes, e a proposta de retorno da CPMF que circulou nos últimos dias sem muita clareza – e que foi negada pela campanha de Bolsonaro. “Não é necessário ficar criando mais tributos. Eu sou contra a reedição da CPMF. Essa confusão entre o Bolsonaro e seu economista-mor, que ele diz que é o Posto Ipiranga, é um sinal que esse posto deve estar tendo um incêndio”, disse Marina.
Para o cientista político Eduardo José Grin, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV que comentou o debate em tempo real no EL PAÍS, o confronto deixou desenhados três campos: “Petistas, antipetistas e os que se apresentam como representantes de um centro democrático e reformista”. “Vamos ver se isso serve para balançar a polarização que se desenha entre Bolsonaro e Haddad”, comentou.

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