A deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT-CE), que ficou seis dias detida em Israel após embarcar para Gaza em uma flotilha humanitária, conta que chegou a viver privação de sono, de água e de comida enquanto esteve sob poder das forças israelenses. A declaração foi feita na manhã desta sexta-feira (17), em entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Anderson Costa, no programa Balanço Geral Ceará Manhã, da TV Cidade Fortaleza.
Segundo Luizianne, os integrantes da missão foram detidos sob “forte aparato policial” e levados à prisão após cerca de 15 horas de travessia em alto-mar, durante as quais ficaram sob vigilância e sem acesso a água potável.
“Tinham dito que iam nos tratar como terroristas de estado. Inclusive nós fomos quarta-feira, na quinta amanhecemos lá, passamos o dia inteiro, na quinta-feira, sem comer, sem ir no banheiro, sem tomar água, até chegar à noite no presídio. Chegamos na quinta-feira à noite. E pasmem: na madrugada, primeiro que eles o tempo inteiro faziam terror psicológico e privação de sono, de hora em hora entrava exército israelense na cela, uma cela que era para ter cinco pessoas tinham onze, no meu caso”, narra Luizianne Lins.
A deputada relatou ainda as condições degradantes impostas logo após a chegada ao território israelense. “Fomos obrigados todos a ficar de joelhos com cotovelos no chão, segurando o passaporte na frente, com a cabeça no chão. Ficamos mais de uma hora nessa situação”, disse. Segundo ela, mais de 200 ativistas foram submetidos ao mesmo tratamento e mantidos “debaixo do sol, no asfalto, como forma de humilhação”.
A parlamentar também revelou ter sido pressionada a assinar um documento declarando-se terrorista, o que recusou. “O documento dizia que eu era terrorista e eu tinha que assumir que era terrorista ao assinar”, afirmou, acrescentando que o ministro israelense da Segurança Nacional chegou a visitá-los na prisão acompanhado de câmeras e soldados. “Ele disse: ‘estou aqui para ajudar vocês a saírem daqui, desde que assinem o documento que diz que vocês são terroristas, são ligados ao Hamas’”, contou.
Luizianne classificou a experiência como humilhante, mas destacou que a realidade enfrentada pelos palestinos é ainda mais dura. “Com tudo que a gente passou, eu penso que não chega nem próximo ao que milhares de palestinos passam naquela mesma prisão”, observou, destacando que há 10 mil palestinos presos no local, incluindo 400 crianças.
Ao comentar sobre a situação em Gaza, ela descreveu o cenário como de destruição total. “Ali é escombro. As pessoas estão voltando para o nada. Está tudo destruído. Reconstruir a vida do zero sem água, sem alimentação, sem nada”, disse.
Defesa da causa palestina e apelo internacional
Durante a entrevista, Luizianne defendeu a necessidade de uma força-tarefa mundial para reconstruir a Faixa de Gaza e promover um acordo duradouro que envolva a própria população local. “O acordo precisa ser construído com o povo palestino que há tanto tempo sofre”, afirmou, ressaltando que “é um processo de resiliência de mais de 80 anos”.
A deputada reafirmou ainda seu compromisso com a causa palestina e criticou a postura do governo de Israel. Segundo ela, o país “pratica terrorismo de Estado” e descumpre normas do direito humanitário internacional. “É preciso que o mundo olhe para Gaza com humanidade”, pontuou ainda a parlamentar.
Luizianne desembarcou no Brasil na última semana, após ter ficado seis dias detida em Israel. Ela chegou ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tendo vindo para Fortaleza em seguida.
A parlamentar estava em missão oficial da Câmara dos Deputados como observadora internacional na flotilha humanitária que levava alimentação, fórmulas infantis e medicamentos a moradores da Palestina. O grupo foi detido no último dia 2 de outubro, em águas internacionais, enquanto participava da missão humanitária. A interceptação pelas forças israelenses aconteceu fora do mar territorial de Israel.
Após a detenção, a deputada e mais 12 brasileiras e brasileiros foram deportados para a Jordânia pelo Governo de Israel no último dia 7 de outubro.
Fonte: GC+