Negros são 80% dos mortos por intervenção policial no Ceará, aponta relatório

Das 152 mortes em operações policias no Ceará em 2022, 69% não houve especificação de raça e cor das pessoas mortas. Mesmo o Estado tendo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 80% de sua população autodeclarada parda/negra. Outro dado mostra a importância da questão racial nas ações das forças de segurança cearenses: entre os casos em que havia o preenchimento do perfil, 80% eram negros.

Os dados são do relatório “Pele alvo: a bala não erra o negro”, elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança, com dados oficiais das secretarias de seguranças estaduais de nove estados (RJ, BA, MA, PA, PE, CE, PI, SP).

De acordo com os dados, aproximadamente sete em cada dez mortes por intervenção policial são de jovens entre 18 e 29 anos. O relatório destaca que, em apenas 2,63% dos casos não houve o preenchimento da informação sobre idade. “Demonstrando mais uma vez que a ausência de dados sobre raça/cor só pode ser explicada pelo racismo”, cita o documento. Entre os 152 mortos, 16% tinham entre 14 e 17 anos, e 12% entre 30 e 58 anos.

Secretaria da Segurança do Ceará

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que houve redução de 5,4% nas mortes em operações policiais, quando comparados os anos de 2022 e 2023 (até outubro).

Através de nota, a pasta especificou que “Com relação ao preenchimento do campo raça/cor na coleta dos dados de vítimas, a SSPDS-CE informa que o novo sistema de informações da PC-CE, que substituirá o atual SIP3W, está em fase de testes, sendo utilizado em duas delegacias especializadas. Além das atualizações de campos obrigatórios para preenchimento de informações, o programa poderá interagir com as bases de dados de outros sistemas, como o de identificação da Pefoce. Com isso, as informações das pessoas cadastradas serão mais detalhadas, incluindo a declaração de raça”.

Brasil

Em 2022, o Brasil registrou 4.219 mortes em intervenções do Estado, sendo 65% de pessoas negras. Bahia e Rio de Janeiro são os estados que mais matam. Considerando somente as vítimas que tiveram identificação de cor/raça, 94% eram negras. No estado baiano, a cada 24 horas, quatro pessoas são mortas em ações do Estado, com grande maioria (74%) sendo jovens entre 18 e 29 anos.

No Rio de Janeiro, a porcentagem é de 78%, enquanto a de vítimas negras é de 86%. A principal crítica do Relatório é sobre “uma política de segurança determinada a lidar com grupos armados a partir de lógicas bélicas de confrontos e tiroteios”.

O Maranhão, de acordo com o Relatório, não coleta dados sobre as mortes em intervenção policial. O Relatório utilizou dados monitorados nos meios de comunicação, que mostram 92 mortes.

O Pará, terceiro maior em número de mortes durante ações policiais, registrou 631 óbitos em 2022 e em 66% dos casos não havia registro de cor/raça. Entre os dados disponíveis, 93% dos mortos eram negros. O Estado teve mais mortes do que São Paulo.

Pernambuco registrou 91 mortes, sendo 89% pessoas negras. O perfil de faixa etária segue a dos outros estados, afetando a população mais jovem (18 a 29 anos).

Piauí teve 39 mortes, sendo 22 na capital Teresina.

Fonte: O Povo