O Flamengo de controvérsias: do povo ao luxo.

Antes de mais nada, escrevo como crítico, jornalista, ser humano e torcedor fervoroso do Flamengo.

O Clube de Regatas do Flamengo, o clube com maior torcida do Brasil e sendo boa parte dela concentrada em periferias e no norte e nordeste do país hoje passa por uma situação que vai na contramão de sua história, de sua torcida.

Na sexta-feira do dia 08 de fevereiro, um incêndio tomava de conta do alojamento do CT do Flamengo, o Ninho do Urubu. Na ocasião, dez atletas de 15 a 17 anos foram vítimas fatais. De lá para cá já se passaram cinco meses e o impasse na justiça para indenizar familiares dos adolescentes vítimas do incêndio não condiz com os esforços sem medidas para reforçar o clube em campo.

O Flamengo possui um dos times mais caros do Brasil, e isso tem feito dele favorito nos campeonatos que participa. Mas o que se passa com um clube que anseia títulos, mas não encara responsabilidades? É lamentável.

O portal de notícias The Intercept Brasil divulgou uma carta aberta, na verdade, um apelo do Defensor público-geral do estado do Rio em que ele pede abertamente para torcida pressionar o clube a ceder a negociação que pede 10% de R$ 173 milhões gasto em contratações de craques para indenização das famílias. “A Nação Rubro-Negra não se confunde com a atual gestão do clube mais popular do Brasil, que desvergonhadamente vibra com gastos de duas de centenas de milhões de reais em reforços, mas é insensível a ponto de não permitir que essas famílias devastadas tenham a possibilidade de recomeçar a vida”.

O clube que insiste em um elenco de elite contratando recentemente o lateral-esquerdo da seleção brasileira, Filipe Luis, tem dito dificuldades para gastar, ops! para indenizar de forma justa as famílias dos adolescentes mortos da base do time. Ainda na carta do Defensor Público, ele fala da realidade dos adolescentes x realidade do clube: “há histórias comoventes, como a do jovem que veio do interior do Sergipe para tentar a sorte no futebol; da família que vive abaixo da linha de pobreza e sequer possuía conta bancária e documentação básica; do garoto que sonhava defender as traves rubro-negras e morava distante dos pais há anos. Histórias de meninos pobres, alguns miseráveis, que sequer conseguem dimensionar as cifras divulgadas na imprensa por apenas três atletas recém-contratados”.

Para o bem do Flamengo, das famílias, da memória dos adolescentes que foram vítimas e do futebol brasileiro parafraseio uma frase da carta do defensor ao Intercept: “Não esqueçam dos meninos mortos no Ninho do Urubu”.