Oposição no Ceará isola Michelle Bolsonaro por críticas de aliança do PL com Ciro Gomes

As articulações da oposição no Ceará ganharam um capítulo a mais em meio às desavenças públicas entre André Fernandes (PL) e Michelle Bolsonaro (PL) sobre a aliança do partido com Ciro Gomes (PSDB). A partir de posicionamentos dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros aliados do grupo, a postura isola a ex-primeira-dama, ao mesmo tempo que expõe o racha interno da sigla.

Durante o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo) ao Governo do Estado, no último domingo (30), Michelle disse ser “precipitada” uma aliança da oposição cearense em torno de uma eventual candidatura do ex-ministro para o Palácio da Abolição, ao defender Girão como nome da direita para a disputa.

A fala foi uma crítica frontal a André Fernandes, presidente do PL Ceará. Presente no evento, o parlamentar afirmou ter aval de Bolsonaro para as negociações com o tucano. “Estou tentando fazer essa construção para derrotar o PT, ter um grande cabo eleitoral no Ceará e ter um candidato de centro-direita. Não aceito que venha alguém de fora dizer que é precipitado ou é errado”, rebateu o parlamentar.

Nos bastidores, conversas internas dão conta que André falou por telefone com o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho mais velho do ex-presidente, e Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, logo após o episódio. Ambos teriam condenado a fala de Michelle e mostrado apoio ao dirigente estadual.

Além disso, aliados afirmam nos bastidores que a posição da ex-primeira-dama seria mais uma movimentação em torno da pré-candidatura da vereadora de Fortaleza Priscila Costa (PL) ao Senado, em detrimento da postulação do deputado Alcides Fernandes — pai de André —, que recebeu a chancela de Bolsonaro ainda no primeiro semestre de 2025.

Presidente nacional do PL Mulher, Michelle virou alvo de críticas públicas dos filhos do ex-presidente na segunda-feira (1º). O primeiro foi o próprio Flávio:

“A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”

A manifestação foi endossada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL), outros dois herdeiros do ex-presidente, via redes sociais.

A posição dos três encontra sintonia com declarações de deputados e vereadores da oposição do Ceará ouvidos pelo PontoPoder. Em linhas gerais, os parlamentares saíram em defesa de André e enfatizaram que o próprio PL precisará resolver a crise internamente. Ao mesmo tempo, reforçaram o desejo pela união do grupo no pleito de 2026.

COMO O PL AVALIA A CRISE
Líder do PL na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), o vereador Julierme Sena (PL) defendeu que André Fernandes demonstrou equilíbrio e maturidade política sobre o cenário estadual, relembrando a vinda de Jair Bolsonaro a Fortaleza em maio deste ano. Durante reunião com o grupo, o ex-presidente teria afirmado que as articulações políticas referentes ao Governo do Estado seriam tocadas pelo deputado federal.

“Qualquer discussão que envolva alianças ou declarações pessoais deve ser tratada com maturidade, habilidade política, diálogo e foco no que realmente importa que é melhorar a vida do povo cearense, e ao meu ver a fala da ex-primeira dama Michelle foi desnecessária e demonstrou imaturidade política, pois poderia ter resolvido internamente com o presidente estadual do PL e os correligionários do partido a nível local, portanto, na minha concepção, roupa suja se lava em casa”.

A posição é reforçada pela líder do PL na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), a deputada estadual Dra. Silvana (PL). A parlamentar considera que Michelle foi deselegante com André, embora entenda a posição da ex-primeira-dama e não veja problema em apoiar Girão, caso seja a posição da sigla. “Agora, o nosso PL é que não pode fazer o que foi feito ali, dentro de um palco de outro partido”, ponderou.

“O meu desejo é ganhar as eleições. Só que nós estamos construindo isso agora internamente no partido, porque eu acho que roupa suja a gente lava em casa. Mas por que é que eu dou um desconto a Michelle? Ela está passando por um momento muito delicado, um momento muito difícil. Emocionalmente as pessoas ficam abaladas. Mas assim, houve uma postura imensamente deselegante com um líder. Não se trata um líder daquele jeito”.

Fonte: Diário do Nordeste