Já ouviu falar em pneumonia silenciosa? O termo é usado para a doença causada, principalmente, pela bactéria Mycoplasma pneumoniae, responsável por internações na Ásia e Estados Unidos, no último ano, e, mais recentemente, no Brasil. Apesar do nome pouco disseminado, a infecção não é novidade para os profissionais da saúde e possui tratamento estabelecido.
Ainda não há um monitoramento dessa bactéria por meio da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), já que a pneumonia causada pela Mycoplasma não é de notificação compulsória. Contudo, é possível identificar a doença por meio de exames laboratoriais.
Robério Leite, infectologista pediátrico, explica que testes de Swab (cotonete) similares aos usados para a Covid podem confirmar a infecção pela bactéria, mas o método ainda não é economicamente acessível.
“Temos realmente visto bem claro o aumento de casos em São Paulo. Aqui, o sistema de saúde pública ainda não captou essa situação, embora a gente tenha visto na saúde suplementar o aumento de casos em crianças”, detalha.
Robério Leite
Infectologista pediátrico
A médica pediatra Vanuza Chagas observa um aumento dos casos de pneumonia com sintomas clássicos e atípicos, em Fortaleza, há cerca de um mês. “A pneumonia silenciosa é atípica, como o nome sugere, não tem no início aqueles sintomas clássicos de tosse, febre alta e cansaço. Se comporta de forma sutil e, por isso, leva a muitas outras complicações pela dificuldade no diagnóstico”, aponta. No entanto, a especialista cita alguns sinais da doença:
- Ausência de febre ou febre baixa
- Palidez
- Recusa alimentar
- Irritabilidade
- Dificuldade respiratória
“É uma realidade dos nossos consultórios, no cotidiano de quem atende urgência e emergência, estamos vendo aumento dos casos de pneumonias diferentes”, destaca Vanuza. A médica explica que além da Mycoplasma, principal causadora, a doença pode surgir por outros agentes como Chlamydophila, Legionella e até pelo Vírus Sincicial Respiratório.
“É feito um tratamento com antibiótico específico que tem de ser iniciado logo para deter essa bactéria e evitar complicações”, conclui. Além disso, hidratação, boa alimentação e o cuidado com a rotina de vacinação fortalecem o sistema imunológico dos bebês e crianças.
O QUE EXPLICA O AUMENTO DE CASOS?
Uma publicação feita pela Universidade de São Paulo (USP) aponta que esse movimento já era esperado por alguns especialistas para o período após o fim do isolamento social da pandemia de Covid-19.
Isso porque as crianças, por exemplo, deixaram de ter contato com bactéria e agora estão mais vulneráveis à infecção. Mas, afinal, como a pneumonia silenciosa se manifesta?
Temos observado a pneumonia com comportamento diferente do habitual, porque na pneumonia silenciosa as alterações são mais discretas e por isso foi dado esse termo
Robério Leite
Infectologista
Devido à falta de sintomas iniciais, os pacientes podem precisar de atendimento médico só quando há agravo da respiração. Nos bebês, como explica Robério, além do desconforto respiratório, o quadro pode ser de dificuldade para alimentação e rouxidão nas extremidades.
“Isso pode ser surpreendente, é uma traiçoeira nesse sentido, por não ter uma manifestação exuberante pode dar a impressão de uma evolução benigna, mas pode evoluir para uma dificuldade de respirar”, pontua.
Paulo Magalhães, pediatra e doutor em Saúde Coletiva, acrescenta que ao se manifestar a doença causa dor de cabeça, dor no corpo, coriza e febre baixa. A dor no peito e a “tosse cheia”, comuns da pneumonia tradicional, podem não aparecer na silenciosa.
“Uma tosse seca e sintomas bem inespecíficos como queda de apetite e irritabilidade”, detalha Paulo Magalhães.
Fonte: Diário do Nordeste