O Presidente Jair Bolsonaro se envolveu em mais um embate polêmico na manhã desta segunda-feira (26), ao reclamar da atuação da OAB na investigação de Adélio Bispo, autor do atentado à facada que foi alvo.
Em entrevista, Bolsonaro afirmou: “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a inteção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ela não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”.
Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira desapareceu em fevereiro de 1974, depois de ter sido preso por agentes do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Na época, Felipe tinha apenas 2 anos. Fernando era integrante da Ação Popular Marxista-Leninista. Apesar dos relatórios da Comissão da Verdade não apresentarem provas da sua participação em lutas armadas, Bolsonaro deu a entender que o militante participou deste tipo de ato.
O presidente da OAB em resposta, afirmou que as declarações de Bolsonaro são lamentáveis e disse “estranhar tal comportamento por um homem que se diz cristão”.
Ainda na sua afirmação, Santa Cruz continua: “Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse um assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem de 26 anos”.
Depois de também acusar o presidente Bolsonaro sobre ataques a minorias, direitos humanos e liberdade de expressão, o presidente da OAB responde a indagação do Bolsonaro sobre o caso Adélio Bispo:
“Asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa uma notícia falsa a se somar a tantas”.
Manifestação da OAB
Em nota, a OAB também se manifestou em relação às falas de Bolsonaro. A Ordem dos Advogados do Brasil afirmou que “todas as autoridades do país, inclusive o senhor presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos”, diz um trecho do comunicado. A OAB também questiona a condução do cargo por Bolsonaro. “O cargo de mandatário da chefia do poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis”, completa o texto que também apresenta solidariedade à família de Santa Cruz.
“Solidariedade a todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante o golpe militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade extrema do senhor presidente da República”, conclui.