Professor de Sobral e Egresso de Ciências Sociais conquista prêmio de melhor dissertação

A Associação Brasileira de Ensino em Ciências Sociais (Abecs) divulgou os premiados em seu segundo Prêmio Abecs de Pesquisa em Ensino das Ciências SociaisNo primeiro lugar, na categoria Melhor Dissertação defendida entre 2022 e 2023, está Caio Tavares, egresso do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (PPGS/Ufal).

Com o tema de pesquisa A construção do “habitus sociológico”: uma análise disposicionista de Fernando Azevedo, Caio explica que foi seu orientador, o professor Cristiano Bodart, que sinalizou a potencialidade do trabalho para a premiação. “Eu já participava do grupo de pesquisa com o professor Cristiano, o Consciências Sociais, e ele me incentivou bastante a ingressar no mestrado, na época meu projeto ficou em primeiro lugar”, relata.

O trabalho teve o objetivo de revelar o que teria levado Fernando Azevedo, mesmo sem graduação em Ciências Sociais, a atuar como sociólogo, e hoje ser reconhecido como um dos principais educadores e sociólogos brasileiros do século XX. “Ele ajudou na criação do primeiro curso de ciências sociais no Brasil. Dentro do campo educacional e consolidação do campo político e cultural do curso na época, ele transitou por esses campos e se constituiu sociólogo. Vale ressaltar também que Fernando Azevedo vislumbrava a sociologia como importante ferramenta para compreender os problemas sociais que afligiam o Brasil”, afirma.

O professor Cristiano Bodart comenta que o estudante sempre demonstrou compromisso com a pesquisa científica ao longo do mestrado, tendo publicado diversos artigos juntos em periódicos científicos e participado de eventos acadêmicos. “A premiação de sua dissertação pela Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais reflete sua postura acadêmica exemplar. Esse reconhecimento destaca a importância da iniciação científica na graduação e evidencia que nosso programa de pós-graduação em Sociologia está produzindo pesquisas de qualidade com reconhecimento nacional”, afirma.

A premiação ocorrerá durante o 6º Congresso Nacional da Abecs, que acontece entre os dias 5 e 8 de novembro na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Rumo ao prêmio

Ele conta que sua história com a Ufal começou ainda em 2015, quando iniciou o curso de Ciências Sociais. “Saí de São Paulo com 19 anos e vim morar em Alagoas para fazer o curso. Eu nunca tinha passado férias em Maceió, nem conhecia ninguém aqui. Conheci a cidade já na pré-matrícula do curso”, conta. Acompanhado da mãe, dona Andréia de Souza, e de um namorado, ele iniciou a jornada na nova cidade. “Desde o primeiro momento minha mãe sempre perguntava se eu estava gostando do curso, e pra mim foi amor à primeira vista. Me encantei com as Ciências Sociais, se tivesse que voltar no tempo, escolheria sempre o mesmo curso”, relata.

Ele lembra que foram os professores da escola pública e do cursinho ainda na cidade paulista, que lhe incutiram o sonho de cursar a universidade: “Meu professor de história sempre falava da importância da universidade pública e eu comecei a ter esse sonho de sair de São Paulo para cursar o curso superior mas sem entender bem dos custos, tanto financeiros como emocionais, de largar sua cidade e ir para outra”.

Ainda como estudante da graduação, Caio vislumbrou a oportunidade de participar de um concurso para professor de sociologia no ensino médio, agora no Ceará. “Particularmente eu não tinha muito interesse em seguir na carreira de professor. Apesar de ter feito licenciatura, minha vontade sempre foi a de seguir a carreira acadêmica, como pesquisador”, diz.

Mesmo assim, ele foi adiante, fez a prova, passou no concurso e após dois anos finalizou a graduação. Como as convocações para as nomeações no concurso atrasaram, ele resolveu participar da seleção para o mestrado na Ufal. A turma de Caio no mestrado em Sociologia foi conhecida como a ‘turma da pandemia’. Eles iniciaram as aulas no mesmo período em que começaram as restrições sanitárias.

“Foi um período difícil, realizamos o mestrado integralmente na pandemia. Além das dificuldades causadas pelo período em si, tive que enfrentar o término do namoro e tudo aquilo bagunçou muito a minha vida, eu tive muita dificuldade em me entender, foi um período de muito descobrimento, busca de saúde mental… E tudo isso com o mestrado acontecendo ao mesmo tempo”, relata.

Com tantas dificuldades, ele foi convocado para trabalhar no Ceará, e fez a mudança seis meses antes de terminar o mestrado. “Comecei novamente, trabalhando como professor, sozinho, numa cidade nova, e ainda tendo que dar conta do mestrado. Fiquei muito frustrado, pois acreditava que minha pesquisa poderia ser melhor. Carreguei essa frustração até ser premiado na Abecs. Foi como um certificado de ter feito o meu melhor, dentro das condições que eu tinha”, completa.

Após três anos como professor, hoje Caio trabalha como coordenador regional do projeto professor-diretor de turma em Sobral no Ceará, mas já se prepara para o doutorado. “No momento estou muito feliz como coordenador, inclusive por que tenho muitas atividades de pesquisa dentro do meu trabalho. Estou muito satisfeito com esse cargo, mas o doutorado é um objetivo o qual pretendo realizar o quanto antes”, diz.