Robô ‘ChatGPT’ escreve redação do Enem em 50 segundos; saiba quanto ele tiraria na prova
Sistema de conversação por inteligência artificial está em fase de testes, mas aberto para qualquer um testar on-line. Ele é capaz de fazer contas, dar respostas detalhadas e rápidas, e escrever em linguagem de programação.
Se um robô se inscrevesse no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), será que conseguiria ser aprovado em um curso concorrido como o de medicina?
O g1 pediu que o novo sistema de inteligência artificial “ChatGPT”, ainda em fase de testes, escrevesse uma redação no tema cobrado em 2022: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. Em 50 segundos (sim, é assustador), sem pestanejar, o robozinho terminou sua tarefa.
Nesta reportagem, leia a íntegra do texto produzido pela ferramenta e entenda por que, segundo professoras de redação, a nota atribuída pelos corretores seria bem mediana: 680 pontos (o máximo é mil).
Antes disso, algumas ressalvas:
-É preciso dizer que o robô é um candidato humilde — logo na primeira tela, ele já assume suas limitações e diz que pode gerar informações incorretas ou conhecer pouco sobre acontecimentos de 2021 em diante.
-E devemos dar outro desconto: apesar de a “máquina” ter de estudar mais um pouquinho para entrar na faculdade, ela já faz contas, dá respostas detalhadas para qualquer pergunta e até escreve em linguagem de programação.
-Desde dezembro, o “ChatGPT” está aberto para que qualquer usuário do mundo o utilize (basta entrar no site e fazer um cadastro). Veja os detalhes aqui.
O que o robô escreveu na redação?
O texto gerado pelo “ChatGPT” foi o seguinte:
No Brasil, a valorização de comunidades e povos tradicionais tem sido um desafio constante. Essas comunidades, que incluem indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros grupos, têm sido historicamente excluídos e discriminados, o que tem prejudicado o seu desenvolvimento econômico e social.
Um dos principais desafios para a valorização dessas comunidades é a falta de reconhecimento de seus direitos territoriais. Muitas vezes, elas são despejadas de suas terras por empresas ou particulares, o que leva à perda de sua fonte de sustento e ao aumento da pobreza. Além disso, a falta de regularização fundiária e a precariedade dos títulos de propriedade têm sido um obstáculo para o acesso a crédito e ao desenvolvimento de projetos econômicos viáveis.
Outro desafio é a falta de políticas públicas e de investimentos para o desenvolvimento dessas comunidades. Muitas vezes, elas são excluídas de programas governamentais e de projetos de infraestrutura, o que dificulta o acesso a serviços básicos como educação, saúde e saneamento. Além disso, a falta de apoio à preservação e valorização de suas culturas e tradições tem contribuído para o esvaziamento dessas comunidades e para a perda de sua identidade cultural.
Para superar esses desafios, é necessário que haja uma mudança de atitude por parte do Estado e da sociedade em geral. É preciso reconhecer os direitos dessas comunidades e implementar políticas públicas que garantam o acesso a serviços básicos e ao desenvolvimento econômico. Além disso, é importante investir na preservação e valorização de suas culturas e tradições, de modo a contribuir para a sua valorização e para a riqueza cultural do país.
Em resumo, a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil é um desafio que exige ações concretas por parte do Estado e da sociedade. Só assim será possível garantir o respeito aos direitos dessas comunidades e promover o seu desenvolvimento econômico e social de maneira justa e equilibrada.
Qual seria a nota do robô? E o boletim de desempenho?
O g1 enviou o texto do robozinho para duas professoras: Marina Rocha, do Colégio e Curso A a Z, e Flávia Consolato, coordenadora de correção de redações do Curso Anglo.
Veja as avaliações delas:
🖊️ Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
👩🏫 Nota (máximo de 200): 160
Observações:
👎A introdução tem erros de concordância nominal (¹ e ²) quando usa “excluídos” e “discriminados” no gênero masculino (o correto seria no feminino, porque referem-se ao termo “comunidades”).
👎 Há falta de paralelismo, por exemplo, no terceiro parágrafo (o certo seria “falta de apoio à preservação e à valorização de suas culturas”).
🖊️ Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema.
👩🏫 Nota (máximo de 200): 120
Observações:
👎 Não houve citação a repertórios culturais de outras áreas de conhecimento (como menção a autores, filmes ou séries).
👍 A abordagem do tema está adequada.
🖊️ Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
👩🏫 Nota (máximo de 200): 160
Observações:
👎 Há lacunas pontuais, como o fato de a proposta de intervenção não retomar temas citados ao longo do texto.
👍 O primeiro parágrafo de desenvolvimento aborda a questão territorial, um problema que afeta gravemente essas comunidades. O argumento é bem desenvolvido.
🖊️ Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
👩🏫 Nota (máximo de 200): 120
👎 Só há operadores de coesão interparágrafos (como “dessa forma”, “consequentemente”) em um momento: “em resumo”.
👎 Apesar de não haver inadequações, há várias repetições (a palavra “comunidades” foi usada 8 vezes). Para alcançar a nota máxima nesta competência, é preciso que haja uso expressivo e diversificado dos recursos de coesão.
🖊️ Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
👩🏫 Nota (máximo de 200): 120
👎 O texto traz várias propostas de intervenção. Considerando a mais completa, temos três elementos: agente (Estado e sociedade), ação (é importante investir na preservação e na valorização de suas culturas e tradições) e finalidade (de modo a contribuir para a sua valorização e para a riqueza cultural do país). Faltaram, portanto, dois elementos: o modo/meio e um detalhamento.
Nota total, segundo as duas corretoras: 680/1.000
Fonte: G1