TRF4 julga Bolsonaro por racismo em fala sobre cabelo de apoiador: ‘Criatório de barata’

Na época, então presidente se justificou, após repercussão, e disse em live que fala era uma 'piada'

Condenado a mais de 27 anos de prisão por liderar uma trama golpista, o ex-presidente Jair Bolsonaro volta ao centro das atenções do Judiciário nesta terça-feira (16). O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) analisa um recurso em uma ação civil pública que o acusa de “declarações públicas de preconceito, discriminação e intolerância contra pessoas negras”, feitas em 2021, quando Bolsonaro era presidente.

Segundo o jornal O Globo, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) pedem que Bolsonaro seja condenado a pagar pelo menos R$ 5 milhões em indenização, além de exigir que a União desembolse R$ 10 milhões, sob o argumento de que se trata de conduta discriminatória praticada pelo chefe do Executivo.

A primeira instância rejeitou o pedido, mas houve recurso e o caso será reavaliado pelo tribunal.

Entre os episódios que sustentam a acusação está uma fala feita em 8 de julho de 2021, nas proximidades do Palácio da Alvorada. Na ocasião, Bolsonaro comparou o cabelo crespo de um apoiador negro a um “criatório de barata” e, em seguida, afirmou, aos risos: “Você não pode tomar ivermectina, vai matar todos os seus piolhos” — em referência ao vermífugo que ele defendia contra a Covid-19.

A acusação também menciona situações anteriores em que Bolsonaro teria feito comentários depreciativos sobre pessoas com cabelo crespo.

Diante da repercussão, o ex-presidente convidou o apoiador para participar de uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. Em live, chamou as falas de “piadas”, questionou quantas vezes o homem tomava banho por mês e ironizou que ele seria eleito deputado federal “se criarem cota para feios”.

Para o MPF e a DPU, as declarações de Bolsonaro ultrapassam o limite da ofensa individual e representam “verdadeira ofensa estigmatizante de discriminação e intolerância a qualquer pessoa negra”.

Eles também pedem que o ex-presidente seja obrigado a se retratar publicamente e a excluir das plataformas digitais qualquer manifestação de cunho discriminatório.

O apoiador envolvido declarou à época que não se sentiu ofendido e afirmou não ser um “negro vitimista”. Ainda assim, para os órgãos de acusação, a questão não se restringe ao impacto pessoal, mas aos danos coletivos provocados pelas falas de Bolsonaro.

FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE