UFC desliga dois alunos por assédio sexual no campus de Quixadá
Dois estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) foram desligados da instituição por envolvimento em casos de assédio sexual. Inédita, a medida foi tomada após a instauração de comissões compostas por servidores e estudantes do campus de Quixadá, onde eles estudavam, que contribuíram para a apuração dos fatos.
Os crimes foram cometidos no ano passado. As vítimas — mulheres — denunciaram os agressores — homens — na administração da universidade no segundo semestre. Logo após, foram criadas comissões internas para analisar os casos, e, diante da gravidade, foram emitidos pareceres favoráveis ao desligamento dos alunos.
Segundo a UFC, os desligamentos foram sancionados pelo reitor após a análise da conformidade com as legislações e normas internas da instituição.
Vítimas sentiam medo de ir para a aula
As vítimas procuraram, inicialmente, a assistente social do campus de Quixadá, Rayanny Alves, que foi quem prestou o primeiro acolhimento a elas. “As estudantes que me procuraram sentiam medo. Uma delas estava faltando às aulas por se sentir insegura em conviver no mesmo espaço que o agressor”, relatou a profissional.
Após o acolhimento, Rayanny formalizou a denúncia internamente, tomando o cuidado para que as jovens não fossem revitimizadas, e as orientou sobre direitos. “Foram apoiadas durante todo o processo”, garantiu.
Quem também prestou suporte às alunas foi o professor João Vilnei, coordenador do Núcleo de Comunicação do campus de Quixadá. Ele acredita que a atuação efetiva da UFC em ambos os episódios, com o desligamento dos agressores, significa o fortalecimento do combate da instituição aos assédios no cotidiano acadêmico.
“Esse assunto tem que aparecer nas aulas, nos trabalhos, nos projetos de extensão, nos eventos que realizamos. Não pode ser falado só quando aparece um caso. A universidade tem enorme potencial de contribuir com a sociedade na construção de um mundo melhor para as mulheres. Se isso não está acontecendo, estamos todos falhando” – João Vilnei, Coordenador do Núcleo de Comunicação do campus da UFC de Quixadá
Medida inédita
Antes, as punições mais severas aplicadas pela UFC em casos de assédio sexual eram, no máximo, três meses de suspensão. Segundo a universidade, isso ocorria, sobretudo, pela falta de determinações específicas a respeito nos normativos da instituição.
De acordo com Vilnei, os casos contribuíram para que a academia percebesse a importância de regulamentar minimamente o passo a passo para a tomada de decisões. Tanto que a UFC instituiu, no segundo semestre de 2024, a Comissão de Enfrentamento e Prevenção ao Assédio Moral, que trabalha para a construção de uma política institucional contra o assédio — a minuta da normativa foi entregue ao gabinete da Reitoria em agosto deste ano.
“A atividade para a construção da minuta da política mexeu com a comunidade acadêmica, trazendo luz à temática dentro da universidade, seja promovendo discussões, seja divulgando os canais que tínhamos para denúncia e apuração, como a ouvidoria e a Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar”, comentou a pró-reitora-adjunta de Assistência Estudantil, Márcia Arão.
Fonte: Diário do Nordeste

