Vale a pena pagar só o mínimo do cartão de crédito?

Com o avanço do endividamento das famílias, o cartão de crédito segue como um dos principais pontos de pressão no orçamento. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 79,5% das famílias estavam endividadas em outubro de 2025, o maior índice da série histórica.

Desde as novas regras do Desenrola Brasil, os juros rotativos do cartão de crédito não podem ultrapassar o valor original da dívida. Ou seja, uma fatura de R$ 100 não pode se transformar em mais de R$ 200, já contando juros e encargos. Mesmo assim, o risco de superendividamento permanece alto para quem não consegue pagar a fatura integral.

Para Camila Poltronieri Flaquer, Head de Cobrança Digital (B2C) da Recovery, o princípio básico é simples: “Sempre que possível, priorize o pagamento do valor total da fatura para não entrar num ciclo de endividamento. Caso esta não seja uma opção, o consumidor precisa avaliar com cuidado se prefere realizar o pagamento mínimo ou solicitar o parcelamento da fatura, avaliando quais são as melhores condições para a quitação da dívida”, diz.

A seguir, entenda as diferenças entre o pagamento do valor mínimo e o parcelamento da dívida, e quando recorrer a cada alternativa.

Quando faz sentido pagar o valor mínimo

Pagar o valor mínimo da fatura evita o atraso imediato, evita o bloqueio do cartão de crédito e mantém o consumidor longe da negativação. No entanto, ao escolher essa opção, o cliente entra no crédito rotativo, que possui os juros mais altos do mercado e aumenta o valor total devido.

Pelas regras do Banco Central, o rotativo só pode durar até a fatura seguinte. Depois disso, o saldo automaticamente migra para outra modalidade, geralmente o parcelamento da fatura. É válido ressaltar que o pagamento mínimo reduz o limite disponível do cartão e gera a sensação de que o valor da fatura não encolhe, o que é verdade, já que quase todo o saldo devedor permanece.

“Pagar o valor mínimo da fatura só faz sentido quando você terá condições reais de quitar o restante no mês seguinte. Do contrário, a dívida cresce de forma acelerada por causa dos juros compostos, e o valor praticamente não diminui”, explica a especialista.

Quando faz sentido parcelar a dívida 

O parcelamento transforma o saldo pendente em uma espécie de empréstimo, com juros e parcelas fixas. Para quem não tem como pagar o valor integral na fatura seguinte, pode ser uma solução mais previsível.

A modalidade ajuda a organizar o orçamento, mas exige disciplina. Durante o período de parcelamento, o limite do cartão fica comprometido, e novas compras podem rapidamente criar uma dívida somada às parcelas já contratadas. É daí que surge o chamado “efeito bola de neve”, comum entre consumidores que tentam conciliar parcelamentos com o uso contínuo do cartão.

Segundo a executiva, o parcelamento é uma alternativa válida, “desde que as parcelas caibam no orçamento e o consumidor consiga evitar novas despesas no cartão enquanto estiver pagando o acordo.”

Quando renegociar a dívida 

Quando a fatura do cartão não é paga – nem mesmo a quantia mínima – o valor imediatamente se converte em dívida, com incidência de juros. Essa situação também ocorre quando as parcelas do acordo de parcelamento deixam de ser pagas, pois não couberam no orçamento.

Em ambos os casos, a renegociação da dívida é sempre a alternativa mais recomendada. Bancos e recuperadoras de crédito costumam oferecer juros menores, prazos mais extensos e, em alguns casos, até descontos para pagamento à vista. A renegociação também evita medidas mais duras, como ter o CPF negativado ou receber uma cobrança judicial. É uma opção que permite reorganizar o orçamento com base na capacidade real de pagamento.

Para Camila, buscar um acordo demonstra boa-fé do consumidor e aumenta as chances de conseguir condições melhores para quitação da dívida.  “É importante conversar com a instituição credora e ser transparente sobre quanto é possível pagar. O banco prefere renegociar a deixar a dívida se arrastar”, explica.

Depois de firmar o acordo, é necessário cumprir as condições combinadas. Atrasos podem cancelar os benefícios da renegociação e restabelecer os juros anteriores, mais altos.

Embora alternativas como o pagamento mínimo e o parcelamento possam oferecer um fôlego momentâneo, a especialista reforça que o ideal é buscar sempre pagar o valor total da fatura. “Em um cenário em que tantas famílias convivem com dívidas crescentes, entender essas modalidades e ter disposição para negociar pode fazer toda a diferença, além de evitar que um problema temporário se transforme em um fardo de longo prazo”, conclui.