Bolsonaro alega que TSE atuou para eleger Lula “a qualquer custo”

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar a Justiça Eleitoral brasileira neste sábado, 3. Em entrevista ao influenciador português Sérgio Tavares, Bolsonaro disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) trabalhou com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em “uma gestão para eleger Lula a qualquer preço”.

Desde a redemocratização, Bolsonaro foi o primeiro presidente do Brasil a não ser reeleito, com 49,10% dos votos contra 50,90% que elegeram o presidente Lula (PT) ao terceiro mandato.

“Ninguém consegue entender como Lula da Silva venceu as eleições”, insinuou Bolsonaro sobre o pleito de 2022, deixando subentendido que houve fraude na disputa eleitoral.

Apesar de não citar nomes durante a entrevista, os ministros do STF que estavam em parceria com o TSE durante as eleições eram Alexandre de Moraes, atual presidente do TSE, Luiz Edson Fachin (ex-presidente do TSE) e Ricardo Lewandowski, agora ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil.

O influenciador Sérgio Tavares questionou o ex-presidente sobre o uso das urnas eletrônicas nas eleições, mas Bolsonaro foi evasivo e se queixou de não poder “duvidar” do sistema eleitoral pelo risco de ser preso.

A insistência em uma suposta tese de falibilidade no voto eletrônico levou Bolsonaro a ser declarado inelegível pelo TSE. Desde a implementação da urna eletrônica no Brasil, em 1996, nunca houve evidência de fraude envolvendo o sistema.

Bolsonaro também aproveitou o espaço para insistir na teoria conspiratória e não comprovada em inquérito de que havia “infiltrados” no ataque terrorista aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, afirmando que “houve uma armadilha” encabeçada por inimigos políticos.

No total, 1.430 pessoas foram presas em 2023 pelos atos golpistas; dessas, 243 foram presas ainda dia 8 de janeiro, 1.152 no dia 9 de janeiro e outras 35 no decorrer do ano após operações de investigação.

“São falas bastante preocupantes no sentido de gerar desinformação“, afirma Daniel Pinheiro, professor universitário e pesquisador de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ao Estadão.

Para Pinheiro, ter dado as declarações a um veículo de mídia estrangeiro, como o canal do influenciador português, não é salvo-conduto para que as alegações escapem do bojo da Justiça brasileira.

“Qualquer declaração de uma pessoa pública, independentemente do veículo em que esteja e sobretudo um ex-presidente da República, terá um impacto político. Com certeza irá ecoar no Brasil. Hoje em dia, a informação não tem fronteiras, vai chegar no País e vai repercutir. No âmbito jurídico, com certeza vai ser debatido, sobretudo no rol das ações que tramitam nessa temática”, explica Pinheiro.

Segundo ele, a dubiedade na resposta sobre o sistema eleitoral é estratégica para a comunicação do ex-presidente. “Ele precisa manter os discursos que produz. Manter o discurso é manter a força. Mesmo que essa seja uma tese fragilizada e que já prejudicou ele juridicamente, precisamos lembrar que ele também combate essa condenação. Então isso, na verdade, é um fortalecimento, pois faz com que seus seguidores ecoem e mantenham a mensagem”, diz o pesquisador.

Fonte: O Povo/Estadão

 

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.