Com redução abaixo do esperado, casos de pneumonia entre crianças gera alerta; veja prevenção

O período oficial de chuvas no Ceará passou e, com isso, deveria ocorrer uma diminuição nos atendimentos por síndromes gripais mais sérias que afetam em crianças, como a pneumonia. No entanto, na prática, a redução tem ficado abaixo do esperado no Ceará.

“As emergências, no momento, ainda estão muito sobrecarregadas. A gente ainda não viu redução importante dos quadros respiratórios, apesar de as chuvas terem reduzido mais”, alerta o médico Evalto Monte, pneumologista pediátrico no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias).

De acordo com dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), 87 crianças de 0 a 9 anos com pneumonia foram atendidas em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Capital, entre os dias 25 de junho e 1º de julho.

Na semana anterior, haviam sido 58. Mesmo com redução em relação ao início de junho, os valores se mantêm expressivos por se tratar de uma doença grave. 

Segundo Evalto, o principal grupo de risco são as crianças abaixo de 5 anos, com maior gravidade abaixo dos 2 anos, pela imaturidade do sistema imunológico. Tanto no sistema público como no privado, a complexidade dos casos vem preocupando os profissionais.

“Nos últimos dois meses, começaram a vir casos de pneumonias mais graves que requerem bem mais tempo de internação, como a pneumonia necrosante, que dá muito mais febre e complicação, sendo muito mais agressiva. O nível de pacientes com pneumonia aumentou consideravelmente”, relata o médico.

Evalto detalha que há crianças com comprometimento de apenas um lado do pulmão, outras com os dois, às vezes evoluindo para derrame pleural (acúmulo de líquidos) e necessitando passar por drenagem.

CENÁRIO ATÍPICO

A pneumonia é uma doença inflamatória aguda que pode ser causada por bactérias, vírus, fungos e reações alérgicas. Historicamente, ela acomete mais pacientes no Ceará durante o período chuvoso, quando há uma maior circulação de vírus respiratórios.

No primeiro semestre de 2023, o médico Evalto Monte percebe que houve um cenário atípico, com muitos pacientes apresentando quadros mais agudos. “A quadra costuma acabar em maio, mas ainda vemos casos isolados. O número de quadros respiratórios não diminuiu num valor importante, ainda tem muitos pacientes internados”, entende.

Dados do Ministério da Saúde mostram um aumento de internações por pneumonias em crianças de até 9 anos no Estado, nos quatro primeiros meses deste ano. Março (1.307) e abril (1.767) tiveram praticamente o dobro de janeiro (664) e fevereiro (799). Informações sobre maio e junho ainda não estão disponíveis.

Conforme o especialista, a manifestação de pneumonias mais graves pode estar relacionada à queda da vacinação infantil da vacina pneumocócica, que protege contra pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo.

Na rede pública do Ceará, a pneumocócica 10-valente é aplicada aos dois (1ª dose), quatro (2ª dose) e 12 meses de vida (1º reforço), de acordo com o calendário vacinal da Sesa. Atualmente, segundo a Pasta, a cobertura para esse imunizante está em torno de 55%.

Na rede privada, há uma versão mais atualizada, a pneumo-13, que fornece proteção contra 13 sorotipos diferentes de pneumococo, em vez dos 10 da pública.

GRUPOS DE RISCO

“A vacinação em dias é de suma importância, mas ultimamente o nível está diminuindo, acho que pelo fato da pandemia (que prejudicou o acesso a postos de saúde) e da onda negacionista. É um problema que estamos enfrentando agora”, reconhece Monte.

O pneumologista ressalta que a principal forma de prevenção da doença é ter o cartão vacinal atualizado, tanto contra influenza e Covid-19 quanto com imunizantes do calendário normal, principalmente até os 2 anos de vida.

Além das não vacinadas, há fatores de risco para crianças:

  • prematuras
  • expostas à fumaça do tabagismo ou proveniente de queimadas
  • que estão em creches desde cedo, antes de 6 meses, em contato com aglomerações
  • com comorbidades importantes, como cardíacas e neurológicas

CUIDADOS NAS FÉRIAS

No período de férias escolares, é preciso que os pais continuem atentos a medidas de prevenção contra a doença em passeios externos e em viagens.

“É bom evitar aglomerações, na medida do possível, e evitar contato com cigarro porque dá muita inflamação. Vá para um parque ou praia, um lugar mais aberto, principalmente com menores de 1 ano. Além disso, o aleitamento materno até 2 anos de vida ajuda bastante na prevenção de alergias”, recomenda.

Se a criança já está doente, é importante ficar atento a sintomas de alerta como:

  • vômitos
  • cansaço ou falta de ar
  • febre persistente de 4 em 4 ou 6 em 6 horas, por pelo menos dois dias

“Primeiro, procure um pediatra, otorrino ou pneumologista. Busque a emergência só para quadros mais sérios”, sugere Evalto.

Fonte: Diário do Nordeste

 

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