Fala de Damares sobre suposto abuso sexual de crianças circula na internet como ficção desde 2010

A história contada durante um culto religioso em Goiânia por Damares Alves (Republicanos-DF) envolvendo crianças da Ilha de Marajó, no Pará, circula em fóruns da internet como ficção desde 2010. Um relato anônimo de 12 anos atrás, que contém diversas semelhanças com o suposto crime descrito pela senadora eleita, foi escrito no site 4chan, conhecido por seu conteúdo satírico e de violência extrema.

O lema do site é “as histórias e informações aqui encontradas são obras artísticas de ficção e falsidade. Só um tolo tomaria qualquer coisa encontrada aqui como fato”. Os textos da plataforma costumam ser chamados de “textos verdes” (“greentexts”). O termo se refere a um subgênero narrativo da internet  onde são contadas experiências bizarras e chocantes, sem oferecer nenhuma prova, ou seja, uma ficção.

Além de não trazer evidências concretas dos relatos, os textos não são assinados. No entanto, por ser amplamente reproduzidos e alterados, os conteúdos passam a ser considerados realidade por pessoas que os ouvem de terceiros.

Umas das narrativas deu força a uma teoria chamada QAnon, em que quase todas as instituições políticas americanas estariam dominadas por pedófilos satanistas, que o ex-presidente Donald Trump combateria secretamente. Segundo informações do O Globo, a teoria saiu do fórum e ganhou credibilidade dentro do Partido Republicano, nos EUA, onde 15% dos correligionários acreditam na teoria.

Comunidades de apreciadores de “textos verdes” compartilham um conto com semelhanças ao relato de Damares, apelidado de “Lolitas escravas brinquedos”. A conta no Twitter de Fabiana Iglesias foi a primeira a notar a semelhança entre os casos. Na história, um suposto cirurgião relata sequestrar crianças, arrancar seus dentes e alimentá-las com líquidos.

No entanto, na narrativa original, o lugar do conto é o Leste Europeu, enquanto Damares afirma que o suposto caso estaria acontecendo na Ilha de Marajó, no Pará. “Os seus dentinhos são arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral. Essa nação que a gente ainda tem irmãos. Nós descobrimos que essas crianças, elas comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal”, disse a senadora eleita.

No conto da internet, o autor diz: “Tiro os dentes da boca. Depois de tirar todos os seus dentes, implanto uma camada de silicone com uma camada superior macia em seus maxilares. Ela [a criança] ainda poderá chupar, mas não poderá mais morder”.

A estratégia de Damares remete ao QAnon. O movimento se refere a Trump como o salvador contra a seita satânica secreta, em uma luta do bem contra o mal. Já Damares faz o mesmo com Bolsonaro:

“Nós vamos atrás de todas elas” [crianças], e o inferno se levantou contra esse homem. A guerra contra Bolsonaro, que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política. É uma guerra espiritual”, disse Damares.

Fonte: O Povo

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.