‘Minha mãe é uma peça’: como Paulo Gustavo conquistou o Brasil com humor cada vez menos ácido

O jeito de Paulo Gustavo fazer graça foi mudando nos últimos anos de sua carreira. Ele passou a fazer cada vez mais piadas com problemas de saúde e menos com gordofobia e estereótipos gays.

O ator, que morreu por complicações da Covid-19 nesta terça-feira (4), protagonizou a comédia mais vista da história do cinema brasileiro. O filme “Minha mãe é uma peça 3” levou 11,5 milhões às salas de cinema e arrecadou R$ 138 milhões em 4 semanas de exibição.

Somados, os três filmes da saga venderam mais de 26 milhões de ingressos.

Com caderninho na mão, o G1 assistiu aos três filmes na época em que o terceiro foi lançado, em dezembro de 2019. Essa maratona humorística de quase 5 horas rendeu uma contagem de piadas

Em resumo, houve:

  • Queda de piadas com gordofobia
  • Diminuição de humor com estereótipos gays
  • Aumento das piadas com doença e saúde
  • Cada vez mais gracinhas citando famosos

A fórmula é a mesma que fez sucesso no teatro: o tema central é a relação de uma mãe com seus filhos. Hermínia é inspirada na mãe de Paulo Gustavo, que sempre aparece nos finais dos filmes, em vídeos gravados pelo ator. Por isso, há tantas piadas com comida, supermercado, sair à noite, namorados…

Mas por que o humor mudou?

 

“Eu vi que você é CDF, né? Fez conta de quantas piadas de acordo com os temas. Achei bem CDF”, brincou Paulo Gustavo ao ser entrevistado pelo G1 às vésperas do lançamento do filme. Ele explicou a queda de piadas sobre peso:

“É um processo natural de uma pessoa, no caso falando de mim mesmo, que vem tendo um ganho de consciência. Coisas que eu poderia falar antes, eu não falaria mais hoje. Muita coisa que brinquei há dez anos, eu já não acho mais graça.”

 

 

Paulo chegou a listar dois motivos para a mudança:

“Tem essa consciência que a gente está ganhando cada vez mais até por ter essas pautas que a gente está discutindo. E eu acho que eu amadureci como ser humano. Eu vou fazendo meus trabalhos de acordo com meu jeito de ser. Eu não sou a mesma coisa que eu era. A arte, ela acompanha isso, ou isso que acompanha a arte.”

Ele também comentou como o outro filho, Juliano, foi retratado no novo filme: “O terceiro filme inteiro é a Dona Hermínia querendo entrar na vida do Juliano e resolver o casamento dele. E feliz conhecendo a sogra, mãe do namorado dele.”

Mas, o humorista discordou que estivesse mais certinho, ou menos ácido. “Não acho que eu estou politicamente correto. Tem coisas que eu falo que são até mais radicais e podem ser mal-interpretadas.”

‘Marcelinaaaaaaa…’

 

A primeira constatação ao ver os filmes é que rolou uma queda nas piadas com gordofobia. O primeiro filme tinha 20 piadas sobre o peso da Marcelina, vivida pela atriz Mariana Xavier. Caiu para oito piadas no segundo filme e a terceira parte não tinha piadas deste tipo.

‘Minha mãe é uma peça’ (2013)

 

Das cerca de 60 piadas contadas no primeiro filme, a maioria é sobre filhos (16), comida (11), casamento (5) e doenças (5). Há vezes em que Dona Hermínia faz rir falando de maconha (3), falando mal do corpo de rivais (3) ou indo pelo humor mais escatológico: cocô (3) e pum (2) são temas de piadas.

É o filme mais escrachado: A estreia tem o roteiro com mais piadas que poderiam ser consideradas inadequadas em 2019. Hermínia chama uma vizinha de “macumbeira”, por ela ser adepta de uma religião de origem africana não revelada. Ela diz que uma boate “está cheia de puta”, por ter mulheres usando vestidos curtos.

O que tem de diferente: É o único com piada sobre bater em criança. Para a protagonista, o certo é “tacar coisas nelas, não bater com as mãos, aí não deixa impressões digitais e não é crime”.

Drama: a morte do sobrinho de Hermínia, André, em acidente de carro.

Com Informações com G1