Perto do fim do prazo, apenas 11% dos médicos se apresentam no Ceará

A pouco mais de uma semana para o fim do prazo de apresentação para o início do trabalho no programa Mais Médicos no Ceará, apenas 11% dos 443 profissionais selecionados foram homologados para começar as atividades.
Até ontem, 49 médicos haviam se apresentado de fato para trabalhar em 20 cidades cearenses, segundo balanço mais recente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems-CE). O período se encerra no dia 14 de dezembro. Houve desistências de médicos inscritos em pelo menos três municípios: Tamboril, Ararendá e Parambu.
No Estado, foram abertas 443 vagas desde a saída dos cubanos, em 20 de novembro, último dia de expediente dos estrangeiros no Brasil depois de o governo da ilha romper contrato com o País sob a justificativa de que não aceitaria as condições impostas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), como a revalidação do diploma. Ao todo, 118 municípios cearenses contavam com 448 profissionais caribenhos atuando no programa.
“Eu acho muito difícil que a gente consiga preencher essas vagas até o fim do prazo (dia 14)”, avalia Sayonara Cidade, vice-presidente do Cosems-CE. Também secretária da Saúde de Cedro, ela afirma que o Estado tem hoje dificuldade para ocupar todas as vagas do Mais Médicos abertas, sobretudo na região do Sertão Central, área mais vulnerável do território.
De acordo com Sayonara, a causa do baixo índice de apresentação de médicos no Ceará tem relação direta com a carga horária do Mais Médicos, que é de 40 horas semanais – 32 de atendimento na Atenção Primária e oito dedicadas a estudos de especialização.
“Normalmente (os médicos) desistem por causa dessa carga horária, porque o valor da bolsa é praticamente o mesmo (R$ 11,8 mil mensais) do que pagam as prefeituras”, acrescenta a gestora.
Em alguns municípios, apurou que médicos vêm tentando negociar uma flexibilização nesse regime de trabalho. É o caso de Tamboril, Uruoca, Moraújo e Morada Nova, por exemplo.
Nessas cidades, profissionais entraram em contato com os secretários de Saúde a fim de tentar abrandar a exigência de cumprimento das 40 horas, um dos itens obrigatórios previstos no edital.
A 286 km de Fortaleza, Tamboril dispunha de 12 equipes do Programa Saúde da Família (PSF) – nove delas com médicos cubanos. Secretário de Saúde da cidade, Rainey Martins afirma que, dos brasileiros que se inscreveram para as vagas, cinco entraram em contato com a secretaria e quatro quiseram negociar carga horária.
Um desistiu prontamente, fala Martins. “O médico propôs fazer o trabalho de terça a sexta-feira, mas não daria a carga de 32 horas”, conta. “Dissemos que não aceitávamos, e ele respondeu que não poderia cumprir”. No município, apenas dois médicos haviam começado a trabalhar até essa quarta-feira.
Secretária de Saúde de Morada Nova (166 km de Fortaleza), Luciana Lima contabiliza que, dos 18 médicos que se apresentaram para substituir os cubanos, metade quis reavaliar a carga horária. “Mas não cedemos”, disse. “Não abrimos mão desse item”.
Os médicos queriam a redução no expediente. “Nós negociamos apenas o dia do estudo deles (as oito horas remanescentes)”, acrescenta a secretária. Apesar disso, 16 profissionais já começaram a operar no município, que tinha 21 cubanos.
Em Uruoca, cinco médicos brasileiros foram homologados e fizeram contato, mas uma desistiu depois de choque com a carga horária, informa Clóvis Cunha, secretário-adjunto da Saúde na cidade. “Ela até conversou com a secretária em relação a isso, mas não entrou em acordo pra ficar por causa do horário”.
Dos seis cubanos que trabalhavam no município distante 287 km da capital cearense, três ficavam em distritos na zona rural e três na sede. Três dos quatro brasileiros que já se apresentaram em Uruoca vão permanecer na sede.
Um dos dois municípios cearenses que dependiam integralmente do Mais Médicos (o outro é Miraíma), Moraújo (a 292 km da Capital) também passa pelo mesmo problema. Dos quatro inscritos para as vagas deixadas pelos cubanos, apenas metade se apresentou.
“Os outros dois estão com pendências, um com problema eleitoral e outro com a carga horária chocando”, contou Raimara Moreira, secretária da Saúde do município. “O profissional queria fazer os plantões no lugar da carga horária dele hospitalar, porque já é médico daqui durante a semana.”

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