Ricardo Cavalcante: “Passada a pandemia, teremos um crescimento espetacular”; confira entrevista

A indústria cearense tem enfrentado a crise provocada pela pandemia com muito trabalho, resiliência e planejamento. Assim como outros setores, sentiu o choque inicial da tragédia sanitária que acomete o País e o mundo, mas reagiu com celeridade.

Apesar do resultado negativo em 2020, o qual reflete principalmente o tombo dos primeiros meses de pandemia, a atividade industrial cearense engatou marcha de recuperação, perfazendo oito resultados positivos em sequência, de acordo com dados do IBGE.

À frente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante é otimista quanto às perspectivas do setor. Nesta entrevista exclusiva, o industrial, que assumirá a presidência da associação Nordeste Fortevinculada à Confederação Nacional da Indústria (CNI), neste mês, enaltece o diálogo com o setor público e o enorme potencial da economia cearense de ampliar sua relevância ante o PIB nacional.

Confira entrevista com Ricardo Cavalcante na íntegra

 

Ricardo Cavalcante Fiec
Legenda: Presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante vai assumir também o comando da associação Nordeste Forte. Posse será no dia 22 deste mês
Foto: Kid Júnior

 

O sr. assume no dia 22 de fevereiro a presidência da Nordeste Forte. Qual é o papel desta entidade para o desenvolvimento do Nordeste?

A associação Nordeste Forte é uma entidade formada pelas nove Federações de Indústria do Nordeste. Ela foi criada em 2016, com o objetivo de fazer com que a gente compreendesse nossas necessidades de todos os estados do Nordeste e para que a gente tentasse em conjunto discutir com os órgãos federais, estaduais e municipais.

O objetivo maior da Nordeste Forte é discutir nossos problemas em conjunto. Fui eleito no final do ano presidente por aclamação para o mandato 2020-2022.

 

Ricardo Cavalcante Fiec
Foto: Kid Junior

 

Qual deve ser a agenda prioritária do sr. à frente da Nordeste Forte?

Nós temos uma agenda para discussão de financiamentos da região, uma pauta que estamos discutindo muito; na parte também de tributação, de infraestrutura – que é uma área muito importante, porque o Nordeste precisa de muita coisa para ser feita –, na parte de energia, de transportes, infraestrutura urbana e hídrica também. E cada etapa nós iremos discutir e acompanhar.

Pra você ter uma ideia, foi um trabalho da Nordeste Forte, junto com a associação do Norte, conseguir sair com essa MP 1017, que faz a renegociação do FNE e do FNO bem como do Finor. Foi um trabalho feito pela Associação que hoje, graças a Deus, se encontra no Congresso em forma de Medida Provisória, um problema que tem mais de duas décadas e não se conseguia resolver.

Então o objetivo da Nordeste Forte é exatamente este: fazer com que nós possamos, unidos, de uma forma coerente, entender quais são as grandes demandas e em cima destas demandas, resolver as questões.

Este movimento de associação tem sido cada vez mais comum no Nordeste, inclusive entre políticos e empresários. Por que o senhor acha que a região tem precisado se unir?

No nosso caso da Nordeste Forte, temos as Federações, que são entidades muito participativas em todos os estados. Eu vou liderar agora nove estados, cada presidente de Federação é muito participativo, e a gente achou a necessidade de se discutir também em conjunto, porque, muitas vezes, os problemas que tem no Maranhão tem também aqui, tem no Rio Grande do Norte, tem na Bahia, etc. A gente tá cada vez mais fortalecendo nossas Federações e também a CNI (Confederação Nacional da Indústria) junto com a Nordeste Forte.

 

Ricardo Cavalcante Fiec
Foto: Kid Junior

 

O ano de 2020 foi difícil para a indústria, assim como para outros setores. Aqui no Ceará houve retração de 6,1% no ano, mas o setor vem mostrando recuperação com oito altas consecutivas. Passado este momento, o sr. acha que a indústria cearense vai sair mais forte desta crise?

Acredito que sim. Eu sou muito otimista. O ano de 2020 foi muito atípico. O primeiro trimestre e o segundo trimestre de 2020 foram muito difíceis para a indústria. Uma boa parte da nossa indústria estava parada, mas já no terceiro trimestre e no quarto, os resultados foram bons. E a perspectiva que existia era que a nossa queda seria muito grande, mas isso acabou não acontecendo. Então isso é motivo de orgulho.

Nossa indústria é disruptiva. Nós temos vários setores que cresceram bastante. Portanto, mesmo diante destes problemas iniciais pelos quais estamos passando, principalmente com esta variante (do coronavírus), a gente está vendo que a indústria está se recuperando, ela está conseguindo a cada dia não só recuperar a capacidade de produção, mas também a recuperação dos empregos.

 

Como o sr. avalia o plano de retomada da economia do Estado?

A gente ficou com quase 60% da indústria trabalhando ininterruptamente, porque sem a indústria como é que você teria os alimentos nas prateleiras dos supermercados, a parte de medicamentos, a parte de higiene, do setor têxtil e de confecções? Então, vários setores trabalharam. Outros ficaram parados.

Esta retomada em 2020 foi um momento difícil na história da Humanidade. Nós não tínhamos nenhuma literatura sobre isso, então fomos construindo isso a muitas mãos, junto com o Governo do Estado e com a Prefeitura, e a gente conseguiu perfazer esta retomada.

E a indústria, desde o processo inicial desta retomada, tem tomado todos os cuidados e seguido todos os protocolos para que não aumente a transmissão entre os colaboradores. Posso dizer que a gente tem sido um exemplo, não só aqui no Ceará mas em outros estados, na forma como a gente tem cuidado dos nossos colaboradores. A indústria tem feito isso com muita segurança.

 

Ricardo Cavalcante Fiec
Foto: Kid Júnior

 

Existe um sonho antigo de elevar a participação do PIB cearense na economia brasileira, há muito tempo no patamar de 2%. Inclusive, recentemente a Fiec lançou uma plataforma para o Desenvolvimento Industrial que cita esta questão. O que falta para o Ceará sair deste patamar?

Primeiro, é importante mostrar ao Governo o que a gente precisa, e não só deixar o Governo vir. Ou seja, a gente abriu o diálogo. Segundo, percepção de mudança: temos que ter a capacidade de entender que neste mundo tão disruptivo de hoje, a gente pode fazer uma coisa em janeiro e em dezembro já ter de fazer outra. Então a gente tem que ter esta percepção de mudança.

E eu vejo que hoje, pra sair deste nível de 2% do PIB brasileiro, nós temos condições, sim. Vamos ter vários grandes negócios que eu acho que vão acontecer no Ceará nos próximos anos. Dentre eles, o hidrogênio verde. Hoje, no Ceará nós temos o que há de melhor em termos de produção de energia e qualificação de energia, tanto eólica como solar. Existe uma complementaridade entre as duas produções de energia que eu diria que em canto nenhum do mundo a gente encontra uma capacidade de produção tão grande quando a gente faz essa complementaridade entre energia solar e eólica.

 

O hidrogênio verde vai ser a fonte alternativa do futuro e tenho certeza que o Ceará vai ter mais um hub aqui no Porto do Pecém. Na Federação hoje, nós já estamos há mais de 60 dias discutindo sobre esse assunto (hidrogênio verde) no nosso núcleo de energia. Contratamos uma consultora internacional que já está fazendo este trabalho.

 

O mundo todo está discutindo o hidrogênio verde, e nós aqui no Ceará também estamos atentos a este assunto, também com o Governo do Estado, a Universidade. Eu acredito, sim, que não só com o hidrogênio verde, mas também com tantas outras indústrias que com certeza virão para o Ceará, a gente vai conseguir transformar esse PIB.

A indústria nacional sofreu nos últimos meses alguns baques, com a saída de empresas grandes, como Ford, 3M, Sony, Mercedes-Benz e outras. Como o sr. interpreta este movimento?

No caso da Ford, foi uma estratégia de realinhamento industrial do próprio negócio. A Ford era líder mundial na produção de veículos, mas o mundo mudou e ela deixou de ser líder. Hoje ela não está nem entre as cinco maiores produtoras.

Mas a gente está negociando aqui pro Ceará a permanência da Troller, que é muito importante. Estamos trabalhando fortemente, não só a Fiec, mas o Governo do Estado e o Federal. E eu mesmo na semana passada estive com dois grandes investidores que estão discutindo essa questão. Há um problema que a gente precisa entender: o incentivo fiscal que existe hoje é para a Ford do Nordeste. O que a gente precisa fazer é este desmembramento, ou seja, a Ford da Bahia ficaria com o seu incentivo lá e a Troller aqui com o seu.

A gente espera que tenha um final feliz. Graças a Deus, a Troller tem até o final do ano, mas mesmo assim a gente está correndo para tentar viabilizar este negócio.

 

Ricardo Cavalcante Fiec
Foto: Kid Junior
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